TURQUIA – Capadoccia (Ásia)

 (veja também o post da introducao sobre a Turquia e viagem à Istambul)

 

Surreal. Acho que esse é o melhor adjetivo para descrever essa fantástica regiao da Turquia, que já foi palco de vários acontecimentos históricos de tempos remotos e até cenário de um dos filmes da série Guerra nas Estrelas (A Ameaça Fantasma). A Capadócia é uma regiao da Anatólia (ou Asia Menor) que fica bem no centro da Turquia. É um planalto predominantemente semi-árido com paisagens deslumbrantes, entre picos, canions, imensas áreas desertas, lagos, e umas formaçoes rochosas muito particulares.

Tudo começou há alguns milhoes de anos, quando alguns vulcoes da regiao resolveram entrar em erupçao, cobrindo toda a área de tufa, que é um tipo de rocha resultante da mistura de lava, cinzas e lama. Depois disso, o tempo e a erosao do vento e da chuva cuidaram de esculpir a regiao. Resultado: algo indescritível e inesquecível!

É difícil descrever essa pluralidade de formas em poucas palavras, mas acho que a formaçao mais característica da Capadóccia sao aquelas “pequenas” montanhas em forma de cone, que me fizeram lembrar da casinha dos smurfs (Lá, lá, lá, lá, lá… lálálálá-lá…). E o mais interessante é que muitas dessas formaçoes realmente viraram casas de verdade, mas nao encontrei os Smurfs. (-:

Nos tempos remotos, as pessoas cavavam a tufa, que é uma rocha relativamente “macia”, e faziam as casas literalmente dentro das rochas. Aliás, existem também inúmeras igrejas que foram feitas dessa forma desde o início da era crista. Várias igrejas foram cavadas há mais de 1000 anos, e muitas delas preservam ainda os afrescos (sim, coisa de fresco!) pintados nas paredes. Aliás, falando em igrejas, vale ressaltar que a capadoccia é citada várias vezes na bíblia. Dizem que o apóstolo Paulo andou por essas bandas. Outro personagem ilustre dessas bandas é o Jorge da Capadoccia. Salve Jorge! Salve Coringao!!! (((-:

E pra mostrar que essa técnica de construçao ainda está sendo aplicada, dá só uma olhada no quarto onde ficamos hospedados em Göreme. Nos sentimos no tempo das cavernas.

 

Pois é, nos sentimos os homens da caverna… tá bom, mas com colchao macio, TV a cabo e água bem quentinha no banheiro  :-)))

Göreme

Göreme é uma cidadezinha de uns 3000 habitantes que fica bem no meio da Capadóccia. É um excelente ponto de partida para vários lugares da regiao tem inclusive trilhas e outras atraçoes bem em torno da cidade. Para chegarmos até lá pegamos um busao em Istambul que levou aproximadamente 10h pra chegar (sao uns 750km, 40 liras turcas por pessoa). Viajamos à noite com um monte de Mohameds, Ahmeds e dois chineses. O busao era até legal, comparável aos do Brasil, porém com uma diferença básica: nao tinha banheiro! Pois é, parece que o banheiro nao é um acessório obrigatório nos ônibus de viagem da Turquia, independente da duraçao da viagem. O jeito era esperar as paradas e torcer pra nao ter um revertério no caminho.

A cidade tem uma boa estrutura  turística, com um centro de informaçoes decente, casas de cambio e caixas automáticos, um monte de pousadas, bares e restaurantes. Além disso, tem algumas lojas que alugam carros, motos e quadriciclos. Pensamos em alugar uma moto pra passear pela regiao, mas, como o tempo estava mais pra inverno do que pra primavera, alugamos um carro mesmo. A cidade ainda estava vazia, por isso estava fácil barganhar. O aluguel do carro saiu por 60 LT para um dia (aprox. 30 €). Ficamos surpresos quando vimos que o carro estava com mais de 190.000 km rodados, afinal os carros de aluguel geralmente sao mais novos. No entanto, o carrinho, um FIAT com motor diesel, nos levou por mais de 300 km sem problemas. Valeu muito a pena, pois assim pudemos visitar outras atraçoes e conhecer melhor a regiao.

Trilha do Amor

Existem várias trilhas em volta da cidade de Göreme, entre elas a trilha do vale do amor. Essa trilha tem uns 8km, que podem ser percorridos em aproximadamente 3h de caminhada. No caminho para a trilha encontramos um cachorro que nos acompanhou até o final, o “Bandit”. A trilha começa em um canyon e depois vai abrindo e apresentando outras paisagens com formaçoes rochosas bem curiosas e uma vegetaçao bem interessante. Os paredoes guardam as marcas da erosao do vento e das águas, e mostram também uma variaçao de cores entre o amarelo, ocre, vermelho e marron. É simplesmente fantástico! Nao, nao dá pra descrever o que era aquilo.

Mas é só depois de umas 2h de caminhada que você entende a origem do nome dessa trilha. Dá só uma olhada nessas formaçoes!!  :-)))

Comes e bebes

Como mencionado no post sobre Istambul, uma das atraçoes da Turquia é, sem dúvida, a sua culinária. Pra começar, o ambiente de vários restaurantes é surpreendente e único, cheio de tapetes e frequentemente com almofadas para  a gente se “aboletar” no chao. Extremamente interessante e descoladissímo! Uma comída típica do país é o Kebap, super difundido acho que em todos os países da europa. É uma carne assada em um espeto gigante, cortada em lascas pequenas e servida com batata ou legumes. Lembra um pouco o famoso “Churrasquinho Grego” no Brasil, mas é mais gostoso. Em Göreme, fomos a um restaurante que servia um Kebap que era cozido em um pote de cerâmica semi-fechado, que precisava ser quebrado para servir a comida. O cara traz o pote de cerâmica e o parte com um facao de meio metro (ui!)! O rango estava delicioso, fora os pedaços de cerâmica que a gente comeu junto com o Kebap.  Bom, no final tudo é barro mesmo…   :-)))

O rango é sensacional, mas o mesmo nao pode-se dizer da cerveja local. Afff… mas também vai esperar o que de um país dominado pelo islamismo… (((-:

Cidades subterrâneas

Outra coisa super interessante e única dessa regiao sao as diversas cidades subterrâneas. Pois é, assim como os tatus, os povos que habitavam essa regiao construíram várias cidades subterrâneas. Dizem que existem mais de 100 espalhadas pela regiao, sendo que a grande maioria nao está aberta a visitaçao. Historiadores dizem que as primeiras cidades subterrâneas foram construídas ainda na idade do bronze, porém a maior parte das construçoes e também das ampliaçoes ocorreu na época do império bizantino, principalmente entre os séculos IV e X, ou seja, praticamente todas tem mais de 1000 anos!

Essas cidades foram construídas com o propósito de oferecer proteçao a seus moradores. No começo serviam de proteçao contra os bichos, e depois serviam de proteçao contra o bicho-homem mesmo. Pois é, muitas cidades foram construídas ou ampliadas nos primórdios da era crista, quando os cristaos eram perseguidos pelo império romano. Depois que o imperador “inventou” que o cristianismo deveria ser a religiao oficial do império, no final do século IV, os cristaos deixaram de ser perseguidos pelos romanos. Entretanto, as cidades subterrâneas ainda seriam usadas como proteçao contra as investidas dos árabes nos séculos seguintes.

Visitamos a cidade subterrânea de Derinkuyu. Essa cidade tem 11 andares subterrâneos e chega a 85m de profundidade. A estrutura da cidade é impressionante! Existem vários saloes que eram usados como igrejas, celeiros, escolas, banhos e até estábulos. Os quartos e saloes sao interligados por túneis, a maioria apertados. O pessoal que moraa lá devia ter dor nas costas… O Mohammed que estava lá na entrada nos disse que essa cidade podia abrigar até 10.000 pessoas! Devia ser igualzinho um formigueiro.  :-))

Demos muita sorte pois, quando entramos na cidade subterrânea, nao havia absolutamente niguém lá dentro. Quando estávamos saíndo chegou um ônibus lotado de turistas japoneses. Como os túneis só permitem a passagem de uma pessoa de cada vez, imagino que deve ser insuportável quando tem muita gente lá dentro. E a vantagem de estarmos sozinhos lá dentro, foi termos tempo e criatividade pra brincar de “casal cavernoso”…hahaha… o Rô se realizou sonhando com as situacoes daquele tempo! (((-:

Vale de Ihlara

Depois da experiência de “homem das cavernas”, seguimos viagem para o canyon de Ihlara. O vale de Ihlara fica entre as cidades de Ihlara e Selime, e você pode percorrer o caminho através de uma trilha de uns 10km por dentro do vale. Paramos o carro na estrada e fomos andando pelo mato / pelo pasto até a beirada do canyon. A paisagem é maravilhosa! Os paredoes de pedra tem uma coloraçao avermelhada, e ao fundo é possível ver o monte Hasan (3262m).

As estradas pouco movimentadas da Capadoccia contrastam fortemente com as estradas da europa central, por onde passam milhares de caminhoes carregando mercadorias pra lá e pra cá (e olha que esse nem é o meio de transporte de mercadorias mais usado na europa). Me lembro de um frentista de um posto da rodovia Fernao Dias (liga SP a BH) dizer que era possível se ter uma idéia do aquecimento da economia do país através da quantidade de caminhoes que passavam na rodovia. Penso nisso todas as vezes que viajamos longas distâncias e quase nao observamos caminhoes. O que você vê no meio do caminho sao campos imensos, desabitados e sem cercas, que de repente terminam em um vale com aquelas formaçoes particulares da regiao.

Pra finalizar uma viagem fantática, só mesmo um pôr do Sol único e inesquecível como o que tivemos. Salve Jorge!!! Salve a vida!!! Salve a Turquia!!! (((-:

 Informaçoes:

  • Cambio: 1€ = 2,10 LT (ref. Março 2010).
  • Os preços de hospedagem e alimentaçao na Turquia sao aproximadamente a metade dos preços da europa central (Alemanha, França, etc…).

TURQUIA – Istambul

(Leia também o post sobre a viagem para Capadoccia na Turquia )

A Turquia (Türkiye, em turco), cujo nome oficial é República da Turquia (Türkiye Cumhuriyeti), é um país eurasiático constituído por uma pequena parte europeia, a Trácia (apenas 3% do território), e uma grande parte asiática, a Anatólia. Faz fronteira com oito países: a Bulgária, a Grécia, a Geórgia, a Armênia, o Iran e o Nakichevan azerbaijano/Azerbaijão, o Iraque e a Síria. E é banhada por 4 mares diferentes: pelo Mar Negro, pelo Egeu, pelo Mar de Mármara e pelo Mediterrâneo. 

Localizada em uma região estratégica, entre a Europa e a Ásia, a Turquia era uma espécie de encruzilhada para muitos povos da antiguidade. Em alguns períodos, a região fez parte de importantes rotas comerciais e era constantemente atravessada por caravanas que transportavam seda e especiarias da China (Rota da Seda). Mas a Turquia é mais do que uma ponte entre o ocidente e o oriente. É mais do que somente a porta de entrada para o oriente. Sim, é muito mais. Esse país encanta pela história encravada nas pedras de cada esquina, sejam estas no continente europeu ou no continente asiático. 

Nao é um país que encanta exatamente pela beleza de sua arquitetura externa ou pelas paisagens urbanas em geral. A Turquia é enigmática, esconde suas riquezas e suas belezas arquitetônicas nos seus interiores majestosos, sempre bem guardadas e preservadas. Mas, por outro lado, a beleza natural deste país é algo único e escancarado. É um país extenso longitudialmente, apresentando cenários e condicoes completamente diferentes conforme os viajantes vao se deslocando de uma extremidade à outra. E foi por isso que nao podíamos nos contentar com Istanbul, e decidimos contar com a bençao de Alá numa viagem de onibus durante 10 horas entre Istambul e Gömere (Capadoccia – Anatólia), na direçao da fronteira com a Síria. Sim, algo difícil de descrever e impossível de esquecer. 

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A República da Turquia é um dos cacos do que sobrou do poderoso Império Otomano. Quem nunca ouviu falar do grande Império Otomano? Olha que até eu que só colava em história já ouvi sobre esses caras faz tempo (rs). 

O Império Otomano (Devlet-i Âliye-yi Osmâniyye em turco otomano) foi um Estado que existiu entre 1299 e 1922 e que, no seu auge, compreendia a Anatólia, o Médio Oriente, parte do norte de África e do sudeste europeu. Foi estabelecido por uma tribo de turcos oguzes (curuzes!) no oeste da Anatólia e era governado pela dinastia Osmanlı. 

Fundado por Osman I (em árabe Uthmān, de onde deriva o nome “otomano”), nos séculos XVI e XVII o império constava entre as principais potências políticas da Europa e vários países europeus temiam os avanços otomanos nos Balcãs. 

Sua capital era a cidade de Constantinopla (chamada assim durante o domínio do Império Romano na regiao, hoje Istambul), tomada ao Império Bizantino em 1453. O Império Otomano foi a única potência muçulmana a desafiar o crescente poderio da Europa Ocidental entre os séculos XV e XIX. Declinou ao longo do século XIX e terminou por ser dissolvido após sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Ao final do conflito, o governo otomano desmoronou e o seu território foi partilhado. O palco político-geográfico do império transformou-se na República da Turquia, após a guerra de independência turca. 

Hoje, ironicamente, a República da Turquia encontra-se em um grande empasse na sua tentativa incansável de fazer parte da poderosa “Uniao Européia”. Estando naquele território é impossível nao se perguntar: “Por que esse processo é tao complexo? Por que a UE nao aceita a Turquia logo? Até que ponto esse blablabla sobre o conflito com os curdos faz sentido?”. Eu e o Rô conversamos muito a esse respeito e nossas conclusoes nao foram tao diferentes da análise de especialistas ainda no ano de 2005. Interessado no tema também? Entao leia a análise na íntegra aqui. É, pelo jeito, o Império Otomano adormeceu, mas nao morreu. 

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Muitas pessoas que, como eu, moram em algumas cidades na Alemanha, conhecem bem o povo turco DA ALEMANHA (Berlim é considerada a maior cidade turca fora da Turquia). Sim, conhecem turcos que moram na Alemanha, sendo que muitos já nasceram aqui. Pois bem, conhecer os turcos em seu habitat natural (assim como qualquer povo) é beeeem diferente e vale muito a pena pagar pra ver e aproveitar para quebrar alguns preconceitos. Obs.: quem nasce na alemanha nao é necessariamente alemao, a nao ser que tenha descendência alema.

Pois é, os turcos da Turquia me pareceram ser diferentes da imagem que é pintada na Alemanha. Infelizmente nao chegamos a conhecer nenhum muito bem por falta de tempo, mas nao por falta de vontade e curiosidade. Sou extremamente observadora e, por isso, nao me cansei de observá-los enquanto estivemos por lá. Me pareceram tao calorosos, tao próximos, tao amigos, tao “família”. Fiquei apaixonada por ver como se tocam, como se expressam, como se abraçam, como se beijam, como se divertem juntos, como vao rezar na mesquita todos juntos (homem com homem e mulher com mulher). Observando as pessoas sem associá-las a qualquer religiao, me senti no Brasil. 

Nao, nao sao perfeitos, assim como ninguém é. Apesar de admirar como vivem intensamente em sociedade, nao confiava em nenhum deles. É estranho e até mesmo triste isso, mas nos sentimos assim no Egito e no Quênia também. A cultura de negociaçao deles me incomoda demais, pois sempre saímos com sentimento de termos sido enganados. Se nós, brasileiros, temos a fama de malandros, nao sei qual adjetivo dar para os turcos, pois eles parecem profissionais nessa área.  

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Na constituicao da República da Turquia é declarada a liberdade na escolha da religiao, até por isso convivem “pacificamente” muçulmanos, cristaos e judeus no território turco. Porém, 90% da populacao é muçulmana. O único conflito existente no âmbito religioso é o conflito com os curdos do sudeste da Anatólia, a península onde fica a porçao asiatica da Turquia. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo clandestino formado por militantes armados, iniciou uma luta armada na Turquia há 23 anos.Criado em 1978, o PKK reivindica a criação de um Estado curdo independente. 

Apesar de o país ter sido uma importante base cristã no passado, restaram poucos cristãos na Turquia. A comunidade cristã atual é formada por ortodoxos, na maioria, protestantes e um pequeno grupo de católicos. 

Respeitar a liberdade religiosa dos não-muçulmanos é essencial para a concretização da expectativa da Turquia em participar da União Europeia. Portanto, a reforma de leis contra igrejas cristãs tem sido facilitada, e o preconceito antiocidental retirado de textos didáticos das escolas. A atual liderança do partido Justiça e Desenvolvimento (AK) chegou até a restaurar uma antiga Igreja armênia no leste da Turquia, ignorando as objeções dos seus membros mais religiosos. Por outro lado li que muitos cemitérios cristaos vem sendo invadidos e os túmulos abertos como forma de protesto contra os católicos. 

Sendo a principal religiao desde país o islamismo, seguem algumas fontes de informacao. Nao sei vocês, mas eu admiro mais coisas no islamismo do que no cristianismo. Talvez seja porque todos muculmanos com os quais tive contato até agora sao pessoas fantásticas que me apresentaram a crenca deles por um outro ângulo (diferente do ângulo da mídia internacional), mas enfim, informar-se é melhor do que criticar sem informacao, certo!? Primeiro uma visao geral sobre o assunto aqui. E o  islam por ele mesmo aqui

Antes que alguém me pergunte: sou definitivamente Deísta, mas amo me informar sobre todas religioes, afinal agora estou na área de Marketing e as religioes sao canais de Marketing poderosissímos. Pois é, é só dizer que tudo é feito em nome de Deus e pronto. (((-: 

Bom, agora chega dessa aula de história e religiao porque o que eu gosto mesmo é de mochilar! Entao vem comigo! 

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Quando o Rô sugeriu irmos para Istanbul nao fiquei muito empolgada, pois pensei que Istanbul nao me impressionaria tanto, afinal a maior parte do seu território fica na Europa. Ledo engano. Istambul é intrigante e é esse lado que vou priorizar nesse post, afinal para ler só sobre as atracoes turísticas basta um “google” e vocês vao achar, no mínimo, 1500 fontes diferentes falando sobre elas. Quer um novo ponto de vista? Entao caiu no Blog certo. (((-: 

 

Assim que entramos para o salao de embarque ainda em Stuttgart (Alemanha) já comecei a sentir que aquela viagem seria inesquecível. Éramos praticamente os únicos “ocidentais” naquele saguao, embora ainda estivéssemos na europa ocidental. Eu era uma das únicas sem o tal lenco na cabeca. Já ali nos sentíamos minoria, ou seja, o que esperar estando no país deles? Quando chegou um determinado horário, ainda em Stuttgart, eis que um “Mohammed” vai para um canto, coloca jornais no chao, ajoelha-se ali mesmo na nossa frente e comeca a cerimônia do sobe-e-desce que os muculmanos fazem quando oram. Eu e o Rô ficamos ainda mais eufóricos vendo aquilo, pois aquilo nos apresentava já uma amostra das situacoes que estavam por vir. 

Estátua mulher usando burca

Chegamos à Istambul pelo lado asiático, após voarmos 2 horas pela Pegasus Airlines (Cia Aérea Turca) de Stuttgart ao aeroporto Sabiha Gökcen, em Istambul. Chegando lá, nos sentimos, a princípio, ainda no Ocidente. O aeroporto é fantástico, totalmente padrao europeu, mas com uma particularidade (tirando a língua) que nao pudemos deixar de notar: haviam duas salas para oracoes – uma para muculmanos e outra para católicos. Naquele momento nao pude deixar de pensar em uma coisa: dizem que o islam nao é tolerante com outras religioes, mas até hoje foi o único lugar onde vi duas salas de oraçoes religioes distintas. Ou alguém já viu algum aeroporto com sala para os muculmanos rezarem? Eu nao. Enfim, de qualquer jeito acho que foi ali que a ficha caiu: estávamos na única cidade do mundo que pertence à dois continentes, o asiático (Asian) e o europeu (Avrupa). 

 

Sim, chegamos na Ásia, mas olha que chique, nosso hospedagem era na Europa. (((-: Fomos buscar infos no aeroporto, sobre como chegar ao nosso Hostel, mas nem por Alá conseguíamos encontrar algum ser nos postos de informacao. Só depois de ficarmos rodando que nem barata tonta é que chegou uma mulher para nos dar informacao…insuficiente. Sim, perguntamos como chegar lá no outro continente e ela nos indicou uma linha de ônibus especial. Pegamos o papel, saímos e o Rô viu um ônibus que fazia o mesmo percurso por MUITO menos. Era um ônibus normal, barato, seguro, sem muito luxo, mas confortável e que nos deixou no metrô.  

Durante o caminho ficamos impressionados com aquela confusao, pois nos sentimos na Marginal Tiête. Muito estranho. Uma pista muito boa, larga, muitos carros (parecidos com os que temos no Brasil) e, nas laterais, um aglomerado impressionante de prédios (exatamente como em muitos lugares do Brasil). Era um pombal que nao acabava mais. Bem que eu li mesmo que a parte asiática de Istanbul é a área residencial, ou seja, o povo trabalha na europa e mora na ásia. Aliás, mesmo se nao tivesse lido a respeito teria percebido, pois como estávamos ali no horário do “rush”, o trânsito sentido europa-ásia estava totalmente parado, já no sentido ásia-europa (nosso sentido) estava relativamente tranquilo. Aliás, adorei esse negócio de “trânsito sentido europa-ásia”, afinal é uma expressao que você só vai poder usar quando estiver falando em Istambul. (((-: 

 

Estávamos lá felizes no ônibus, abstraindo sobre como tudo aquilo nos lembrava as marginais de Sampa, quando de repente nossas impressoes foram reforcadas quando vimos através da janela empoeirada do busao alguns vendedores ambulantes, vendendo seus produtos no meio do trânsito parado. Ai penso: será que isso é mais um dos legados turcos em Sampa (rs)? Ah! E nos dias seguintes também vimos meninos lavando os vidros dos carros em troca de moedas e também grades nas janelas. Alguma dúvida de que os turcos trouxeram pro Brasil muito mais do que os doces e o Habbib´s? Aliás, falando em doces turcos… hummm… 

Descemos no susto na estacao de metrô, ou seja, por pouco nao perdíamos esta. Chegando lá, caímos na real e vimos que nada ali seria tao trivial de resolver, até mesmo a compra de bilhetes para o metrô ou a baldeacao de um metrô para outro. O pior é que você nao sabe pra quem perguntar, pois alguém que fale inglês nao é algo assim tao fácil de encontrar dentro de uma estacao de metrô qualquer no meio da noite. No fim, fomos para uma maquininha e compramos os bilhetes (que na verdade sao fichas) na intuicao de que tínhamos feito a coisa certa, pois certeza mesmo só tínhamos uma: entender a língua turca é impossível! Enfim, pegamos o metrô, mas tínhamos que baldear para um outro transporte que nem sabíamos qual era. Chegando no lugar, descobrimos que era um funicular, só que subterrâneo! Nunca tinha visto algo do tipo. 

Quando chegamos na rua do Hotel ficamos meio apreensivos, pois já era noite, a rua estava um tanto suja, com lixo espalhado pra todos os lados e nao tinha quase ninguém circulando por lá. Fora que era uma ladeira de respeito, daquelas que se vê em Minas Gerais. Mas o curioso é que apesar do lugar ser meio “tenebroso”, estava cheio de hotéis legais. Bom, o nosso hotel nao era nenhum luxo (óbvio), mas era, digamos “arrumadinho”. O mais interessante é que a gente percebeu nao só no Hotel, mas em tudo por aquelas bandas que os turcos também trabalham baseados nas “solucoes técnicas para algo sem solucao apropriada” como nós brasileiros. Sim, o famoso “jeitinho brasileiro” também é lei por lá. Cada gambiarra! 

No nosso quarto duas coisas nos chamaram a atencao. Primeiro a privada, ou melhor, uma torneirinha que saía de dentro da privada. Pela posicao, conluímos que aquilo serve para lavar o “giló” de forma prática e, literalmente, direcionada. Já a segunda foi um adesivo colado na parede logo acima da TV. Pela posicao da flecha concluímos que aquele adesivo é um guia para os muculmanos se voltarem para Meca na hora de rezar. Outra sugestao? (((-:

Depois de “aportarmos”, chegou a hora de explorar Istambul. Por onde comecar? Mas é lógico que tínhamos que comecar pela comida! Aliás, o que que é aquilo!? Comemos tanto, mas tanto, mas tanto, que até passamos mal à noite. Aquilo sim que é Humus, meu Deus! E aqueles paes… a pizza turca… ai ai ai. Mas a cerveja e o café turco eu deveria ter dispensado (rs). Fomos à um restaurante super agradável pertinho do Hotel. Nesse dia a cidade ainda estava bem tranquila e o restaurante praticamente vazio, logo fomos tratados que nem sultao, comecando pelo lugar onde nos sentamos pra comer, que mais parecia a mesinha do sultao da diretoria. Mas nossa maior surpresa lá nem foi tanto a comida, mas sim o atendimento em PORTUGUÊS! Sim, tinha um “Mohamed” lá que morou 6 meses no Brasil (SP) e trabalhou em um restaurante turco lá. O cara ficou super feliz quando dissemos que éramos brasileiros e ficou lá papeando com a gente naquele português que me lembra meu alemao há um ano atrás (rs). A comida e o papo estavam taaaao bons que até esquecemos de tirar fotos, mas segue uma do dia seguinte no mesmo restaurante só que nese dia o nosso aposento já estava ocupado. )))-: 

Foi nesse restaurante que percebi como estou carente de “gente como a gente”. O pessoal do restaurante foi tao atencioso, tao caloroso, os olhos daquele povo sorriem como os nossos quando a gente se fala, eles te tocam (tá, às vezes até demais), conversam muito uns com os outros durante o trabalho (tá, por isso tem que trabalhar mais horas), sao carinhosos, alegres, engraçados, fazem a gente realmente se sentir “servido”. Me senti tao bem naquela atmosfera como há muito tempo na me sentia em lugar nenhum por aqui que quaaase abracei os caras, mas ai o bom-senso falou mais alto e o Rô também. (rs)  

No outro dia comecamos nossa jornada “turista”, apesar do dia nao estar nada convidativo. Andamos por praticamente toda a cidade velha, mas nao entramos em dois lugares ditos imperdíveis, mas depois explico o “causo” (rs). Também nao tirei muitas fotos no primeiro dia descrito anteriormente, porque esqueci de carregar a bateria da máquina. Tá, fui meio “Blöd”. (((-: 

Grand Bazaar (Grande Bazar)  

Nossa primeira parada foi o FANTÁSTICO “Grand Bazaar”. A Turquia definitivamente se encontra ali. É um mercadao gigaaaante com uma atmosfera extremamente exótica e com produtos maravilhosos. É um dos maiores e mais antigos mercados cobertos do mundo. Foi inaugurado em 1461 e expandido várias vezes. Hoje conta com mais de 4000 lojas.

O que mais me encantou foram esses lustres da foto abaixo. Pois é, seria melhor ter me apaixonado por algo mais fácil de transportar, eu sei, mas nao tem problema, já tenho idéias pra produzir algo parecido quando chegar ao Brasil. Quem disse que só china é bom na cópia? (((-: 

 

Andando pra lá e pra cá você fica tonto com os turcos servindo chá em bandejinha como a da foto abaixo. Eles nao param de recarregar os copinhos com o tal chá turco. Depois de ver o tanto que eles bebem esse chá e o tanto que esse chá é, para meu fino paladar, forte, fico me perguntando quantos porcento da populacao turca sofre com pedra nos rins. Vai tomar chá assim lá na Turquia, viu (rs)!? Ah! Aproveitando a foto, observem também a altura das mesas e banquetinhas nesse café. Isso é super comum por lá. Eu gosto, afinal sou da tribo dos “perna-curtas”, mas o Rô que é um pouquiiiinho maior que eu achou super desconfortável. Enfim, gostando ou nao achei um detalhe interessante da cultura local. 

Chegamos cedo, pois diz a lenda que os turcos e árabes sao mais generosos nos primeiros negócios fechados do dia, pois acreditam que se começam bem, vao daí pra melhor até o final do dia. Teve um que deixou a gente até com peso na consciência, pois fomos os primeiros possíveis clientes, mas decidimos nao levar o produto e ai ele nos disse que aquela tentativa frustrada de venda ia arruinar o dia de negócios dele. Curuzes! Sai pra lá zica! (rs) 

Bom, nao compramos muita coisa nao, afinal fomos pra Turquia pra bater perna e nao pra fazer shopping. Maaas só pra deixar os “Mohameds” e os “Ahmeds” felizes comprei um cashimir pra mim (foto na Mesquita Azul) e o Rô comprou um instrumento de cordas turco super interessante (foto na próxima parada da viagem: Capadoccia). 

É uma experiência maravilhosa se perder naquela variedade de cores, formas e sons. Negociar é que é a parte complicada e que exige uma paciência de Alá, pois os caras sao jogo duro. Por isso, reserve, no mínimo, 5 horas pra explorar o mercadao e ainda comprar algo por lá. Visitar o Grand Bazar é OBRIGATÓRIO pra quem passar por Istambul, o resto é complemento. Pode acreditar! (((-: 

O mais engracado foi andar sem rumo lá dentro e todos nos perguntávamos de onde éramos (tá, eles fazem isso com todos turistas), mas quando dizíamos que éramos do Brasil nao é que os “Mohameds” soltavam várias palavras em português do Brasil! Eu fico eufórica com isso, pois quando morava no Brasil nao tinha noçao de como somos, em geral, queridos mundo à fora. Sim, temos algumas famas nada positivas, mas, no geral, quando você diz que é brasileiro, a galera vibra como dizendo: “Chegou a galera da bagunça, do samba, do futebol e da caipirinha!” (rs). 

Blue Mosque (Mesquita Azul) 

 

Só por Alá! Nunca vi um templo religioso tao MARAVILHOSO na minha vida! Sério, nao estou exagerando. A Mesquita Azul foi construída pra botar a famosa na época Igreja de Santa Sofia (Aya Sofia – hoje museu) no chinelo.  É verdade! Pelo menos foi essa a intencao do Sultao que mandou contruí-la. 

A Mesquita Azul ou também chamada de Mesquita de Sultão Ahmet é um triunfo em harmonia, proporção e elegância. Ela foi construída em um estilo clássico otomano e se encontra bem em frente do atual museu de Santa Sofia (sua rival) no bairro famoso de Sultan Ahmet. 

As mesquitas geralmente eram construídas com um intuito de serviço publico. Existiam diversos prédios ao lado da Mesquita Azul que incluem: escola de teologia, uma sauna turca,  uma cozinha que fornecia sopa aos pobres, e lojas, as quais forneciam capital para o sustento da mesma. 

 

Ao entrar a Mesquita é necessário tirar os sapatos. Aliás, é inevitável observar a galera muculmana lavando os pés antes de entrar nas mesquitas. Eles lavam os pés, os rostos e as maos. Por isso, em toda mesquita existe uma área “lava-pés” do lado externo próximo à porta de entrada. Eles fazem isso para manter o local de oracao limpo e também como uma forma de “se purificar” antes de entrar no templo. É tipo um lance de respeito mesmo. Eles sentam no banquinho e apoiam o pé na muretinha logo abaixo da torneira. 

Como a Mesquita Azul é aberta ao público nos horários fora dos horários de reza dos muculmanos (sao 5 vezes por dia e os horários você vê logo na entrada da Mesquita), eles tem uma estrutura bem legal para turistas. Chegando na entrada para visitantes tivemos que tirar nossos sapatos (sim, nada de meia furada!) e lá mesmo encontramos um lugar onde pudemos pegar uma sacolinha de plástico para colocá-los. Logo que entramos, vimos umas prateleiras cheias de sacolinhas com sapatos e ai seguindo a intuicao fizemos o mesmo. Minissaias, bermudas ou camisetas sem mangas não são recomendados, ou melhor, sao “no go” mesmo. O lenco na cabeca nao é obrigatório e ninguém olha torto pra você, caso decida entrar sem. Aliás, nao me senti sendo observada por nao estar com o lenco em momento nenhum em Istambul. Na verdade percebi que eu e o Rô passamos por turcos fácil fácil (rs). Mas eu decidi usar meu cashimir só pra aparecer mesmo (rs). 

O interior da mesquita é completamente revestido com azulejos azuis maravilhosos e possui ricos vitrais também do mesmo tom. O chao é 100% coberto por um tapete fofissímo vermelho com detalhes! Assim, até eu ficava ali rezando horas naquele tapete fofiiiiinho. Aliás, minha maior e talvez única dificuldade em virar muculmana seria minha falta de senso de direcao. Já pensou ter que toda vez saber pra que lado fica Meca? Pois é, o Alcorao teria que vir com bússola pra pessoas como eu. (((-: 

Outra coisa super interessante e intrigante nas Mesquitas é que homens e mulheres rezam em lugares separados, embora o horário e o local seja o mesmo. Na foto abaixo é possível ver uma mulher direcionada para as prateleiras onde deixamos os calcados, certo? Pois é, atrás dessas prateleiras tem uma área minúscula em relacao à área total da Mesquita onde as mulheres rezam. Perguntamos para um turco porque eles rezam separados e ele nos disse: “Imagina você rezando e vendo uma bunda subindo e descendo na sua frente.” Bom, acho isso foi auto-explicativo, né!? (((-: 

Nargilódromo 

Estávamos andando perto do hotel onde estávamos hospedados quando vimos um lugar bem escondido onde pessoas entravam e saiam. A entrada era escura e ao lado ficava um cemitério. Cheguei a pensar que era uma galeria para fazer compras ou até mesmo uma extensao do cemitério, mas nao, era um lugar fantástico onde as pessoas se reunem pra fumar o famoso Nargile. Curiosos até a tampa, entramos.

Eram vários estabelecimentos colados um ao outro, com várias pessoas sentadas fumando Nargile e conversando. A atmosfera estava meio esbranquiçada por causa da fumaça exalada pelos fumantes, mas o cheiro era adocicado e encantador gracas às essências que impregnam os tabacos consumidos. As essências sao feitas a base de frutas como maça, banada, abacaxi, ou também de ervas como hortela, erva doce, etc.

O Nargile é uma parte muito importante da cultura turca, fazendo parte da vida deste povo desde muitos séculos atrás. Fumar Nargile é relativamente simples e, acreditem, agradável, mas prepará-lo requer um pouco mais de paciência e conhecimento. É composto de 4 partes:  “Rüle” (a parte onde se coloca o tabaco puro ou com essência), “Ser” (parte larga e comprida), “Marpuç” (o cano) e “Sise” (o pote onde se coloca a água). O elemento principal é, sem dúvida, o tabaco chamado “Tömbeki”. E agora talvez para melhor atender os turistas, os caras também oferecem uma ponteira individual e descartável que vem lacrada em um saquinho para encaixar no bocal. Gostei da idéia, afinal é um tal de botar a boca no negócio que só vendo. (((-: 

Nao fumo cigarro e odeio o cheiro e o sabor, mas o Nargile utilizando tabaco com essência de maça realmente me deixou saudades. Ah! Eles nao colocam a essência por cima do tabaco como eu imaginava. O tabaco já vem em caixinhas com dezenas de essências diferentes e é possível comprar em qualquer lojinha por lá. 

Obelisco Egípcio 

Existem obeliscos egípcios em várias cidades européias, como Roma e Paris. Os egípcios tinham o maior trabalhao para fazê-los e depois vinham os “conquistadores” e pilhavam essas obras e plantavam como monumentos em suas cidades. O Obelisco de Teodosio está super bem conservado apesar de ser o monumento mais antigo de Istambul. Ele foi talhado no Egito em 1479 a.c. (isso mesmo, tem quase 3500 anos!) e foi colocado, a princípio, no Templo de Amón-Re em Karnak /Egito.  

Bem deopis do nascimento de Jesus Cristo, no ano de 390 d.c., o imperador Teodosio mandou trazer o obelisco para, naquele tempo, a ainda Constantinopla. O obelisco era gigante e pra tranportá-lo foi preciso cortá-lo e todo o translado deste desde o Egito até a Turquia é ilustrado na base deste. 

Comeu-morreu turco

Após parada para ver os detalhes do Obelisco, bateu uma fome. Como estávamos com pouco tempo, decidimos encarar algo do tipo “comeu-morreu” na beira do Estreito de Bósforo mesmo embriagado pela mistura de fumaça de óleo diesel dos motores e azeite queimando. Estávamos andando procurando algo para comer quando de repente senti um cheiro de peixe frito daqueles que hipnotisam qualquer um que ama peixe como eu. Indo pelo faro chegamos em uma barraquinha que estava vendendo muito desse peixe frito em um pao com salada. Detalhe que naquela barraquinha só tinha gente com cara de local e, segundo o Rô, com cara de desbravadores, pois pra comer aquele peixe tinha que ter coragem ou, como eu, muita fome. Pedi um, comi tudo e ainda lambi os beiços de tao bom que estava. O Rô ficou pasmo com minha coragem e nao aceitou nem um pedacinho, mesmo vendo que a banquinha do turco estava bombando. Mais pra frente vimos um monte de barcos tipo “vem pra cá turista” vendendo o mesmo tipo de lanche, mas numa versao muito mais “fancy” só pra turistaiada. Eu, particularmente, prefiro o local. (((-: 

Passeando de Ferry entre o Ocidente e o Oriente 

Atravessar do lado Oriental para o lado Ocidental de Istambul (ou vice-versa) utilizando o servico de ferry é totalmente normal. A travessia dura aproximandamente 30 min. e você ainda pode dizer que fez váááários cruzeiros no Mar de Marmara. A viagem é tranquila, o ambiente limpo e agradável, o preço é justo (é o preço de uma passagem de metro), o tempo de espera entre um e outro é relativamente curto, mas o banheiro… enfim, o banheiro é fossa turca. É rezar e agachar ou vice-versa. Sim, isso merece um tópico especial. (((-: 

Fossa Turca 

Estar na Turquia te proporciona experiências fantásticas que exigem de você um pouco mais de desprendimento e de equilíbrio físico também. Uma dessas experiências é a utilizacao das legítimas fossas turcas. Eu nao esperava encontrar tantas, mas a boa notícia é que quanto mais você usa, mais você comeca a ver pontos positivos. 

A fossa turca é o famoso “buraco no chao” feito para despositar necessidades fisiológicas. Sim, já usei algo do tipo no Brasil, mas tenho que admitir que ainda temos muito pra aprender com os turcos. As fossas turcas da Turquia geralmente sao cobertas com uma peça de cerâmica ou peça de aco-inox com ondulaçoes, o que te ajuda a nao escorregar. Além disso, normalmente tem uma torneira com uma jarra que você deve usar para jogar água após fazer sua obra de arte, tornando o ambiente menos “medonho”. Nessa cabine o interessante também foi ver que a escovinha que deveria estar no suporte nao estava lá. Alguém ainda tem dúvidas de que ela também foi pro buraco (rs)? 

A parte mais difícil foi, pra mim, levantar depois de alguns minutos agachada. Pois é, quem tem varizes mesmo que adormecidas sabe do que estou falando. Ficar agachada muito tempo nao é nada perto do que passamos na hora de esticar as pernas novamente. Afff… 

A fossa turca tem um aspecto feioso e o cheiro no local nao é dos mais agradáveis, mas se pararmos pra pensar ela pode ser muito mais higiênica dos que nossas privadas, uma vez que, na fossa turca, você nao senta no trono público. Algo interessante pra refletir, mas fiquem tranquilos que em casa manteremos as privadas. (((-: 

Cemitério Turco 

Os cemitérios turcos sao lindos com essas colunas cheias de coisas escritas em árabe. Eu fiquei encantada com eles, por serem diferentes de tudo que eu já tinha visto até hoje em cemitérios por ai. Um dos cemitérios na Turquia  na regiao de Seljukian está prestes a entrar na lista de Patrimônios da Humanidade da UNESCO. 

Yerebatan Sarnici (Cisterna Yerebatan) 

 

A “Basilica Cisterna” muitas vezes passa desapercebida pelos turistas em Istambul e isso é sim uma pena, pois vale a visita. É uma cisterna gigante construída durante o Império Bizantino (527-565). Parece um castelo subterrâneo, com colunas brotando das suas águas. 

Existem vááárias histórias sobre esse legado histórico, mas nada comprovado, ou seja, mais algumas centenas de hipóteses de historiadores espalhados pelo mundo todo. Mas dentro de todas hipóteses, as mais interessantes dizem respeito à presenca de duas cabecas de medusa que servem como base de duas colunas. Foi o que mais me chamou a atencao ali naquela cisterna, pois fiquei tentando ver uma relacao entre a medusa e aquele lugar. Bom, segundo os historiadores, a cabeça da medusa era utilizada como forma de proteçao antigamente. Pois é, todos tinham medo de olhar pra ela para nao se transformarem em pedra, mas ao mesmo tempo muitos utilizavam isso justamente para afastar os inimigos medrosos. Aliás, dizem que a medusa era uma mulher muito bonita e amava Perseus (filho de Zeus). Mas a Medusa se deu mal, pois Atenas também se apaixonou pelo cara e decidiu amaldiçoar a Medusa transformando seus cabelos em cobras horríveis. Pois é, ai Perseus vendo que a sua amada Medusa agora tinha o poder de transformar a galera em pedra, decidiu cortar a cabeça dela e levar para todas suas batalhas, o que o ajudou e muito a derrotar seus inimigos empedrados. Uma história tao romântica, né!? (((-: 

Mas, voltando à explicaçao do por quê das cabeças de Medusa na cisterna, tenho que dizer que concordo com os cientistas que afirmam que estas só foram colocadas ali porque os caras precisavam de um apoio mais forte nas duas colunas onde estao posicionadas. 

 

Mercado Egípcio 

O Mercado Egípcio, apesar do nome, talvez nao tenha nenhum egípcio trabalhando lá. Esse nome se refere ao papel do mercado na época do Império Otomano. Era aqui que se vendiam as especiarias egípcias no período do império. Foi construído em 1660 para financiar a construcao de uma das mesquitas. 

A atmosfera é bem das arábias mesmo. É impressionante a quantidade de especiarias que você pode encontrar ali e a forma de negociacao é a mesma, ou seja, tem que ter muuuuita paciência. 

 

Aya Sofia (Hagia Sophia) 

O famoso museu Aya Sophia (que era uma mesquita) é super famoso e seu interior DEVE ser muito mais bonito do que seu exterior. 

Sim, DEVE. Pois é, nao conseguimos visitá-lo, pois perdemos a noçao do tempo sentados, comendo e conversando em um restaurante maravilhoso com almofadinhas de Sultao absurdamente confortáveis. Entao fica a dica: evite restaurantes como este para nao deixar de visitar as atracoes da cidade OU reserve, no mínimo, dois dias só pra comer e desfrutar por lá. Os dois juntos é uma tarefa relativamente complicada. Vai por mim! (((-: 

Entao pra saber mais sobre ele vocês vao ter que pesquisar em outras fontes como esta. Eu aqui só posso dizer que a fachada é bem feinha, mas que o que acontece em volta é bem interessante. Tem muitos vendedores de paes (abaixo) e do chá turco como o cara na carrocinha na frente do museu na primeira foto. 

 

Topkapi Palace (Palácio Topkapi) 

O castelo Topkapi também deve ser muito bonito e esse, eu tenho que admitir, morri de arrependimento por nao ter conseguido visitar também por causa da comelância. Neste site você pode ver ele direitinho. O site é em inglês, mas se nao souber inglês vai clicando na intuiçao pra ver todas imagens. 

 

É isso. Istambul é isso tudo e mais um pouco. É um lugar que vale a pena conhecer e que irá sempre trazer muitos questionamentos e reflexoes sobre a história do mundo, sobre os valores pregados por uma cultura milenar e até mesmo sobre nós e nossos referenciais ocidentais muitas vezes demasiadamente arrogantes e ignorantes. 

Tire mais que fotos, tire proveito cultural. (((-:

África – Quênia

Savana, vida selvagem, linha do equador, tambores, cores, sabores, música, dança, tribos, simpatia, extrema desigualdade social, corrupção, festa, pessoas famintas, vontade de aprender, sobrevivência, desemprego, desnutrição, falta de higiene, riqueza cultural, belas artes, moeda fraca, trabalho árduo, negociação, banho frio, esperança e resignação. São esses fatores e adjetivos que traduzem o que vimos e vivemos no Quênia em 17 dias.

Essa realidade é a mesma para a maioria dos 53 países africanos, mas ainda existem países como Nigéria (país mais populoso da África – riqueza em petróleo) e África do Sul (maior concentração de mineirais do mundo – descendentes de europeus ricos e africanos puros pobres – palco do regime do Apartheid e de Nelson Mandela) onde é possível ver um quadro menos desolador.

Mas porque escolhemos o Quênia? Na verdade, a dúvida estava entre Quênia e Tanzânia, pois ambos tem ótimas possibilidades para prática de safáris e montanhismo e, se houvesse tempo, ainda daria pra curtir umas praias. Além disso, esses dois países são representativos da África essencialmente negra e, com isso, teríamos a oportunidade de vivenciar o cotidiano e as riquezas desse povo. Os dois destinos são os melhores no continente para fazer um Safari realmente selvagem e, além disso, são os possuidores das duas maiores montanhas vulcânicas do continente africano: Monte Kilimanjaro na Tanzânia (5.895m de altitude) e Monte Quênia no Quênia (5.199m de altitude). Mas, pesquisando, vimos que o roteiro da viagem no Quênia seria menos complicado e, ainda por cima, os preços na Tanzânia são um bocado mais caros.

Por isso escolhemos o Quênia, mas é por muito mais que não vamos esquecê-lo jamais. Ao longo do post (ou podem chamar de “ensaio para um livro”) vocês irão perceber que trata-se de uma viagem muito mais cultural e espiritual do que de uma viagem apenas geográfica (apesar das paisagens fantásticas e únicas). Foi uma viagem que mexeu com nossos valores e com nossas interpretações pessoais sobre nós e sobre nossa sociedade em geral. Nos lembramos incansavelmente do Brasil, pois, infelizmente, ainda apresentamos, principalmente no eixo norte do nosso país, muitas similaridades com a pobreza e o modo de vida do continente africano. 

Foi uma viagem mágica. Uma viagem capaz de me fazer sentir falta e dar valor para coisas triviais como o cheiro do café coando, cereal com mel e, principalmente, de um banho quente diário. Coisas que temos no dia-a-dia e, até mesmo por isso, nunca pensamos no quanto elas são importantes pra nós, pois temos. Mas só precisamos de menos de 20 dias pra entender o quanto elas são importantes, pois lá não tivemos praticamente acesso a elas. Infelizmente essa é a natureza do ser humano e não apenas uma frase solta: “Só damos valor àquilo que (mesmo que temporariamente) perdemos.”

É um post diferente, pois não encontrei, principalmente no início, muitos motivos pra fazer piada. Espero que ao lerem entendam que às vezes o humor “não cabe”. Mas, é lógico, que encontrei algumas brechas pra quebrar “a tristeza”, pois o povo africano merece nosso sorriso. É um povo que sofre cantando como se estivesse rezando. É um povo que nunca olha somente pra frente, pois pode ser que ao lado tenha alguém precisando de ajuda. É um povo que sorri deliciosamente de forma compulsiva e escandalosa (alguma semelhança comigo?). É um povo que briga, que chora, mas que perdoa. É sanguíneo, é HUMANO. É por tudo isso que amo a África, pois como brasileiros devemos agradecer muito à essa gente que introduziu na nossa terra tantas melodias, sabores, esperança e alegria.  

Amo a África como amo meus pais, ou seja, amo mas não moraria lá, assim como não gostaria de morar novamente com meus pais apesar de amá-los muito. (((-:

Esse post está dividido em vários tópicos a saber: geografia e afins, história, língua, estrutura turística, ser branco no mundo negro, povo, religião, culinária, transporte, trânsito, higiene local, pobreza, safaris, trekking – montanhismo Monte Quênia, passeios, seja voluntário, curiosidades, dicas e cuidados. O link para as fotos relacionadas aparece ao ao lado de cada título nos tópicos, sendo assim o post pode ser lido e “sentido” em vários dias. Considerando que eu poderia escrever um livro de verdade sobre essa viagem, acreditem: o post é um resumo bem apertado de tudo que foi vivido. Não tenha pressa pra ler tudo, pois cada tópico vale uma reflexão pessoal sobre o que você possui e sobre o que você é e acredita. (((-:

Maaaasss como sou uma pessoa flexível, clique aqui  para acessar de uma só vez as 238 fotos que selecionei a partir das 1500 que tiramos.

Antes de, enfim, começar, segue um poema chamado “Presença Africana” de Alda Lara, nascida em Angola, em “Poemas”. Ele resume exatamente o que sinto hoje sobre a África. Li, revivi e chorei através dele, pela primeira vez, sobre a África e para a África. 

“E apesar de tudo, ainda sou a mesma!
Livre e esguia, filha eterna de quanta rebeldia me sagrou.
Mãe-África! Mãe forte da floresta e do deserto, ainda sou,
a irmã-mulher de tudo o que em ti vibra puro e incerto!…
A dos coqueiros, de cabeleiras verdes e corpos arrojados sobre o azul…
A do dendém nascendo dos abraços das palmeiras…
A do sol bom, mordendo o chão das Ingombotas…
A das acácias rubras salpicando de sangue as avenidas, longas e floridas…

Sim! ainda sou a mesma.
– A do amor transbordando pelos carregadores do cais suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes (Rua 11…Rua 11…)
pelos negros meninos de barriga inchada e olhos fundos…
Sem dores nem alegrias, de tronco nu e musculoso, a raça escreve a prumo,
a força destes dias…
E eu revendo ainda e sempre, nela, aquela
longa historia inconsequente…
Terra! Minha, eternamente…
Terra das acácias, dos dongos, dos cólios baloiçando, mansamente… mansamente!…

Terra! Ainda sou a mesma!
Ainda sou a que num canto novo, pura e livre,
me levanto, ao aceno do teu Povo!…”

GEOGRAFIA E AFINS

Quênia (em swahili e inglês Kenya) está situado na África oriental, tendo fronteiras a leste com a Somália, a norte com a Etiópia e o Sudão, a oeste com Uganda, a sudoeste com a Tanzânia e a sudeste é banhado pelo Oceano Índico. Sua capital é Nairobi e sua moeda é o Shilling Queniano. (Wikipédia)

HISTÓRIA

O Quênia conquistou sua independência recentemente em 1963, se libertando do domínio Britânico. São APENAS 45 anos de independência e esse fator deve ser levado em consideração antes de se julgar a situação atual desse país. Para os brasileiros é relativamente fácil explicá-la. Imaginem todos os problemas e consequências negativas do processo de colonização que nós ainda enfrentamos após quase 200 anos de independência, mas num nível muito superior e dramático. Essa é a situação do Quênia atualmente, com alguns agravantes que nós não temos: conflitos tribais e 2,2 milhões de pessoas com aids.

Conflitos tribais fazem parte da história do Quênia, e foram inclusive “patrocinados” pelo império Britânio durante seu dominio. Quando os ingleses “devolveram” o poder aos quenianos, já era de se esperar que esses conflitos iriam acontecer. O último conflito entre as tribos quenianas ocorreu no começo desse ano (2008), devido às eleições presidenciais no país. Foi o conflito mais sangrento e grave de toda a história desse país, o que nos fez pesquisar e pensar muito antes de decidir seguir em frente nessa viagem. Em todas eleições esses conflitos se repetem, pois os quenianos ainda não se identificam exatamente pelo país onde vivem, mas sim pelas suas origens tribais. Não apoiam um presidente por ele ser queniano, mas sim por ele ser pertencente a mesma tribo que o eleitor. Se uma das tribos mais fortes percebe que o seu “candidato tribal” poderá perder, ou que os resultados podem ser fraudados, começam os conflitos armados.

LÍNGUA

Segundo alguns quenianos com que conversamos, existem atualmente 42 tribos diferentes no Quênia (alguns livros citam 70), sendo que cada uma tem a sua própria língua. Eles se comunicam entre si geralmente em inglês ou em swahili.

A primeira língua oficial no Quênia é o swahili e a segunda é o inglês. Ai você pensa: “Iupi! Como eu sei falar inglês vou me dar bem!”. Engana-se. Praticamente todos falam inglês, mas, até aí, dizer que é possível entendê-los já é outra coisa. (((-: No dia-a-dia eles se comunicam em swahili. Muitos programas de TV são em swahili, e revistas e jornais também. Sendo assim, o inglês só é utilizado quando eles tem que se comunicar com turistas ou com africanos que não falam swahili (o que é raro). Lembra da expressão: “se não usa, enferruja”? Pois é, o inglês da maioria é bem enferrujado e o acento também dificulta a compreensão até mesmo dos caras mais fluentes. Mas, como eles mesmos dizem incansavelmente: “HAKUNA MATATA” (sem problemas). Peça pra que repita quantas vezes forem necessárias e no final todo mundo se entende. (((-:

ESTRUTURA TURISTÍCA

Viajamos (ou pelo menos tentamos) de forma independente, mas viajar nesse estilo “mochileiro” tem seu preço psicológico que não é baixo. Passamos por algumas dificuldades para conseguir organizar os passeios, principalmente entre cidades distantes. Fomos enrolados (ou pelo menos quase) por praticamente todos operadores de turismo, taxistas e comerciantes.

Aparentemente, mentir no Quênia é cultural para as pessoas que querem vender algo e, se você não entender isso, vai ter um infarto. Todos são simpáticos e cativantes e é ai que mora o perigo. Cuidado. Não se engane. Lembre-se que ele só está sendo simpático porque você é um consumidor potencial e, pode ter certeza, se não comprar o que ele está te oferecendo, aquele sorriso desaparece rapidamente.

A estrutura para o turismo é suficiente, mas falha. O que isso significa? Significa que existem sim muitos hotéis, muitas agências de turismo e muitos guias e carregadores, mas, em compensação, toda essa estrutura opera como cartéis e NAO EXISTE um posto de informações turísticas que seja neutro. Todas as agências que possuem escritório colocam uma placa na faixada dizendo que são “posto de informação turística” e na parte inferior do cartaz, com letras menores, escrevem o nome da empresa. É uma armadilha.

Outra “armadilha” é armada para os turistas pelos taxistas e atendentes dos hotéis. Quase todos tem uma ligação comissionada com agentes de turismo e dão um jeito de te empurrar pra esse. Lembre-se: você está literalmente na selva e se sentirá sendo caçado a todo instante. Não vacile. Não confie. Se cair na armadilha, seja equilibrado o suficiente para ver se vale a pena morder a isca ou não e não hesite em abandonar o cativeiro se sentir que é uma furada. TODOS hotéis que ficamos nos aprontaram dessas, mas o pior foi em Nakuru, onde o agente, que foi chamado pela recepcionista, foi nos apresentar seus passeios no nosso quarto! Absurdo. Mas, pra eles, normal.

Resumindo, você tem duas escolhas claras de turismo no Quênia:

– INDEPENDENTE: economia com estress e a oportunidade de viver quase integralmente a cultura local (se tiver problemas cardíacos pule essa opção);

– PACOTE FECHADO: paga uma fortuna, mas volta achando tudo um paraíso e ainda economiza por não ter que ir ao médico porque sua pressão está alta devido ao estress.

A escolha é sua, mas, acredite, quando eu falo do problema cardíaco é sério. (((-:

SER BRANCO NO MUNDO NEGRO

Chegada em Nairobi. Éramos 2 dos, no máximo, 15 brancos que encontramos em toda a viagem andando sem guias no meio do povo local. Fomos observados e, muitas vezes, encarados. Pela primeira vez senti o que é ser “estranho” ou “diferente” (na verdade, foi a segunda, pois a primeira foi quando entrei “por engano” no meio da torcida organizada do Palmeiras no Pacaembú – detalhe: sou corinthiana e estava completamente uniformizada). E foi assim que nos sentimos em quase todos lugares que fomos: diferentes. Lógico que estou me referindo à superfície, pois sei que somos, acima de tudo, seres humanos e é ai que nossas diferenças se anulam.

Mas é estranho ser “estranho” e isso eu não posso deixar de dizer. É estranho ver que todos à sua volta te olham, te analisam, cochicham com o cara do lado te fitando e, algumas vezes, te olham com olhar de provocação e imponência, como se te dissessem: “O que você está fazendo aqui? Volte para seu país.”

Mas o engraçado é observar que com as crianças é diferente. Elas olham pra você com olhar curioso, mas neutro. Outras sorriem e fazem graça querendo chamar sua atenção. Outras ainda aproveitam a janela aberta do veículo onde você está e te pedem um doce.

Analisando essa diferença só posso concluir aquilo que todos nós sabemos: a sociedade e as dificuldades que se vive rotineiramente tem o poder de eliminar a ternura e a pureza que um dia todos nós tivemos e isso é igual para todos: brancos, negros, amarelos ou vermelhos. O pré-conceito é fruto da sociedade e não da alma.

Ser minoria foi e é a melhor forma de despertar nossa compaixão, pois se não fizermos isso é impossível conviver com o fato de ser “diferente”. É preciso entender o porquê as pessoas agem como agem e pra isso é preciso olhar para aquelas pessoas e sentir o que elas sentem quando vivem o mesmo que você está vivendo naquele momento. Nesse caso é só você pensar na exclusão social brasileira, da qual participam, na sua grande maioria, descendentes de africanos. Por que nos olhariam com doçura e coleguismo? Pense também quem ganha mais com a miséria africana. Negros? Não. Brancos. Lembrando que apenas uma pequena elite africana também lucra com isso.

POVO ( mais fotos aqui )

O povo queniano é um povo dividido em diversas tribos. Normalmente quando você conhece um queniano ele irá se apresentar e logo irá te dizer de qual tribo ele vem. Nós tivemos contato com esse costume em Nakuru, onde conhecemos uma garçonete super simpática que primeiro nos disse que se chamava Maureen e, logo em seguida, sem que perguntássemos, nos falou que sua tribo é a Kixii. E é ai que você percebe que as raízes desse povo são segregadas e talvez seja por isso que o país ainda enfrenta tantos problemas. O Quênia, apesar da independência, ainda não é o que podemos chamar de nação. Não tem unidade e foi provavelmente por isso que os colonizadores europeus tiveram tanto sucesso na colonização não só do Quênia, mas como em outros 50 dos 53 países existentes nesse continente (só Etiópia e a Libéria não foram colonizadas). Os europeus utilizaram das diferenças étnicas das regiões para criarem conflitos internos, facilitando assim sua penetração e o domínio das regiões. Exatamente como aconteceu no Brasil. Os colonizadores se “amigavam” com uma ou várias tribos mais “fortes” e eram essas que capturavam pessoas de tribos adversárias e as comercializavam como “coisas”. Sendo possível dizer, a partir dessa análise, que nenhuma colônia no contexto mundial é ou foi tão vítima quanto parece ser.

Uma das tribos quenianas de costumes mais marcantes e persistentes é a tribo dos “Maasai Mara”, embora não seja a mais influente no âmbito político. É uma tribo que vem brigando para manter seus costumes e tradições, mesmo sendo obrigada cada dia mais a abandonar muitos destes. É comum encontrar pessoas dessa tribo em toda extensão do território queniano e em uma parte do território da Tanzânia, pois eles tem uma natureza semi-nômade e são uma das poucas tribos com trânsito livre entre os dois países. Andam pra lá e pra cá vendendo seus artesanatos e bijouterias típicas feitas por eles. Além disso, os homens andam com seus rebanhos de bois e carneiros procurando campos para que eles se alimentem, pois, dependendo da região, muitas áreas ficam secas e improdutivas.

Vivem em casas feitas de barro e esterco de boi, construídas pelas mulheres da tribo. Aliás, pelo que entendi, são as mulheres que fazem praticamente tudo para e pela tribo. Essas casas são baixinhas, sendo difícil imaginar pessoas altas como eles vivendo lá dentro. Existem, no máximo, dois “cômodos”: a cozinha, com um buraco no chão que serve de “fogão”, e o “quarto” sem colchão, sendo colocada apenas a pele de um animal como forro sobre o barro sólido.

Vivem de forma considerada por nós precária. Enquanto estivemos lá, senti uma tristeza profunda, mesmo sabendo que deveria estar feliz pela oportunidade de vivenciar aquilo. Meu problema é que não me contento com a superfície, ou seja, quando vivo algo procuro a verdade da situação e tento “sentir” o que as pessoas à minha volta estão sentindo. E o que vi foi muita miséria e injustiça. Vi um povo sem lugar que se rendeu ao mercado de turismo pra tentar sobreviver, sem saber que é isso que irá acabar com sua essência. Muitos integrantes da tribo já “mudaram de lado”, encantados pela possibilidade de ter dinheiro. Muitos trabalham atualmente como seguranças nas cidades e são facilmente reconhecidos, pois quase todos integrantes dessa tribo possuem um enorme buraco na parte inferior da orelha. Uma marca eterna obtida em um dos rituais de demonstração de força e bravura, tanto pelos homens, quanto pelas mulheres.

Quando cheguei fiquei encantada com as crianças brincando e sorrindo, mas a partir do momento que o encanto passou pude enxergar moscas cobrindo o rosto de uma menininha linda e graciosa que fez pose pra tirar foto. Logo após, ela veio ao meu encontro pra ver a foto e, de repente, me vi rodeada por quase uma dezena de crianças encantadas com minha “super máquina” que mostrava a eles como eles são. Acredito que muitos ali nunca tinham se visto, pois não vi espelhos e nem acredito que eles se preocupem com isso.

Eles apresentaram danças típicas. Uma para os homens e outra para as mulheres. O Rô não quis dançar, mas não perdeu a oportunidade de pegar na lança dos Maasai. (((-:

Para produzir fogo eles ainda usam do atrito entre madeiras. Vimos o cara “fazendo” o fogo e eu me senti no filme “Odisséia 2001”. Sim! Me senti um primata descobrindo como se faz fogo, pois eu sempre ouvi dizer, mas nunca tinha visto ao vivo. (((-: Tá bom, admito: sou caipira.

RELIGIAO

A religião no Quênia é composta por 35% de protestantes, 30% de católicos, 30% de muçulmanos e 5% de animistas.

Os muçulmanos se concentram principalmente na região costeira do país, mas esse fato não vai te livrar de acordar antes das 5 da manhã com as mesquitas presentes em todas as cidades. Juro que não tenho nada contra muçulmanos, mas durante essa viagem eu cheguei a pensar seriamente em ir até a mesquita e quebrar o transmissor de som. Afff… Só por Alá mesmo!

A religião mais curiosa é praticada por algumas tribos, como por exemplo, pelos Maasai. A religião é chamada “Animismo Monoteísta”. É uma manifestação religiosa na qual se atribui a todos os elementos do cosmos (Sol, Lua, estrelas), a todos os elementos da natureza (rio, oceano, montanha, floresta, rocha), a todos os seres vivos (animais, árvores, plantas) e a todos os fenômenos naturais (chuva, vento, dia, noite) um princípio vital e pessoal, chamado de “ânima”, que na visão cosmocêntrica significa energia, na antropocêntrica significa espírito e na teocêntrica alma.

Os praticantes dessa religião ainda empregam a circuncisão masculina e a mutilação genital feminina. No caso dos homens, consiste de uma operação cirúrgica para remover o prepúcio, prega cutânea que recobre a glande do pênis. Segundo seus defensores reduz o risco do homem ser contagiado pelo HIV e também reduz o prazer e a possibilidade de masturbação. Já a Mutilação Genital Feminina (sigla MGF) é uma prática realizada em vários países principalmente da África, e da Ásia, que consiste na amputação do clitóris da mulher de modo que esta não possa sentir prazer durante o ato sexual. São práticas desprezíveis e, até mesmo por isso, muitas entidades internacionais vem lutando para torná-las ilegais, mas por serem praticadas voluntariamente fica difícil de vetá-las. (Wikipédia)

CULINÁRIA

Logo na primeira noite já pude sentir que estava no paraíso culinário. Chegamos no albergue cansados e com fome e, por sorte, tinha um restaurante no albergue esperando por nós. Quando comi senti o cheiro do Brasil. (((-: Agradeci a Deus pela influência africana na nossa culinária. Foi a melhor comida que comi desde que voltei do Brasil. Acreditem.

Eles, assim como nós, comem muuuuita carne vermelha e todas que provamos estavam macias como nunca. Uma das diferenças (facilmente resolvida) é que eles não costumam colocar sal nas coisas. Bem estranho. Mas é só pedir sal e o seu problema estará solucionado.

Outra diferença é que muitos costumam comer com a mão, principalmente quando estão em casa e isso segue todo um ritual. Primeiro passa alguém com uma jarra de água e um balde para que cada um lave suas mãos. Depois as pessoas comem com as mãos e, após o término, a pessoa passa de novo com a jarra e o balde para que as pessoas limpem as mãos. Só vimos essa situação em dois restaurantes na cidade de Nanyuki (base para subir no Monte Quênia pela rota Sirimon), pois acredito que é menos frequente as pessoas comerem com as mãos nos restaurantes. E, como é raro, decidi quebrar o protocolo. (((-:

Essa “massa” que estou comendo é o chamado “Ugali”. Uma massa de mandioca sem gosto nenhum. Serve apenas como fonte de carboidrato que substitui o arroz nas refeições. É uma forma de ficar bem alimentado, gastando menos.

O Quênia possui um dos cafés mais famosos do mundo, assim como a Etiópia, mas apesar disso só conseguimos tomar dessa delícia em casas de café em Nairobi. Nos outros lugares só nos serviam um sachê de café solúvel produzido pela Nestlé. Estranho, mas não muito diferente do que acontecia com o café produzido no Brasil. Os melhores grãos do café brasileiro foram por muito tempo destinados à exportação, mas lembro de ler que o governo atual está adotando medidas para acabar com essa prática de países do tipo “mamãe quero ser colônia”.

O café da manhã queniano tem uma forte influência da Inglaterra, ou seja, eles também tem o costume de comer ovo frito, salsicha e bacon nessa refeição. Uma bomba! E somado à isso eles ainda comem caldo de mocotó (eu odiei). Entendeu porque que eles ganham tantas maratonas mundiais? (((-:

Não vimos açúcar refinado em lugar nenhum. A maioria usa açúcar cristal e também chegamos a utilizar açúcar mascavo. Falando sinceramente, até prefiro, pois sei que tanto um quanto o outro são mais saudáveis, uma vez que não passam por processos químicos como o refinado.

Quenianos são famosos também por, assim como seus colonizadores ingleses, tomarem chá com leite. Uma mistura aparentemente estranha, mas que tem um gosto peculiar e até mesmo agradável. Tomamos muito durante nossos dias gélidos no Monte Quênia. (((-:

Eles também tem muitos pratos exóticos parecidos com pratos típicos do nordeste brasileiro como, por exemplo, intestino de bode ou sopa de rabo de boi. Urgh!

TRANSPORTE ( mais fotos aqui )

Caos. Tumulto. Desconhecimento de leis de trânsito. Irresponsabilidade. Loucura. Corrupção. Isso resume (eu acho) tudo que eu poderia falar nesse tópico. Mas, apesar disso tudo, trabalhar com transporte no Quênia é um dos meios mais comuns de se ganhar um dinheirinho quando não se tem outra possibilidade.

Em Nairobi o meio de transporte mais utilizado são as minivans chamadas na língua local de “matatu”. A frota desses carros deve representar 85-90% da frota de carros do Quênia. Pode parecer um trocadilho besta, mas “mata-tu” é uma ótima designação para esse meio de transporte local. Podemos dizer que andar de matatu foi a experiência mais aventureira que já vivemos até hoje. Um sentimento que Safari nenhum é capaz de te proporcionar. Pois é, o que é aventura pra gente é rotina pra eles.

Pra quem morava em São Paulo pelos idos de 2001-2002 é relativamente fácil de imaginar o que são esses matatus e o risco que eles oferecem para seus passageiros. Lembram do sistema de perueiros clandestinos em São Paulo, principalmente os da Zona Leste? É isso piorado umas 20 vezes! Não existe tabela de horários para a saída. A lei é: encheu, saiu. E eles saem acelerando pra conseguir fazer o máximo de viagens possíveis por dia, custe o que custar, inclusive a vida deles e de todos que estiverem com eles. O que são 14 lugares, viram facilmente 20 durante o caminho, não importando se você pagou por 1 ou por 1/5 do assento. Mas se esse fato é o que te incomoda, eles tem a solução: o super “Matatu Shuttle”! Essa é uma modalidade de matatu que enche, sai e só pára para descarregar a galera e, para tornar sua viagem ainda mais confortável eles também tem uma TV, através da qual você irá ver clips musicais a viagem inteira e, como consequência, você vai querer quebrar essa TV após 30 minutos ouvindo música num volume ensurdecedor. Ai eu me pergunto o que é pior: viajar esmagado ou ficar surdo. (((-:

Devido ao alto índice de acidentes, o governo atual tem elevado o policiamento nas estradas. Vocês acreditam que está funcionando? Não. Não funciona, pois o sistema queniano é absurdamente corrupto e seus policiais não são exceção à regra. E nós conhecemos muito bem essa realidade. Eu vi, infelizmente, essa corrupção em uma blitz, onde o matatu onde estávamos foi parado. Todos vêem, todos sabem, mas ninguém está preocupado em mudar as “regras do jogo”. É um país que só tem uma lei: a lei da selva, onde o mais importante é sobreviver e não importa como.

E, como se não bastasse, o estress de ficar esperando o matatu sair, ainda tivemos que aguentar dezenas de vendedores ambulantes enfiando seus baldes cheios de produtos dentro da van para comprarmos. Eles vendem de tudo: óculos, jornais, doces, salsicha, vinagrete numa colher (com a qual se despeja o “conteúdo” comprado na sua mão), ovo cozido, suco retirado de um balde com um caneco e etc. Os pontos finais de matatu são a visão do inferno. Imundos e caóticos. Som alto, todas pessoas falando e gritando. É nessas horas que agradeço por ter sido iniciada em Yoga, pois em todos esses momentos eu lembrava das aulas de respiração e meditação e começava a praticar antes que ficasse “fora de si”. Acreditem: eu poderia ter matado um em alguns momentos.

Já nas cidades menores, onde o matatu também está presente, encontra-se muitos “tuk-tuks”. Se ouvir o som que eles fazem, vai entender o nome desses veículos engraçados. Antes de aparecerem os matatus, esse era o meio de transporte mais comum também em Nairobi.

Já em vilas distantes, é preciso registrar aqui cenas que vimos nesses lugares no quesito transporte. Vimos, principalmente no caminho para Namanga, muitas pessoas entaladas em pequenas carretas. É porque não existe nenhum outro meio de transporte para essas. Dá a impressão de que deve sair apenas um caminhão por dia e, por isso, eles se expremem o máximo possível para que todos tenham a oportunidade de ir para onde desejam.

Os quenianos, assim como os brasileiros, encontram nas dificuldades diárias oportunidades de fazer dinheiro. Uma prova disso são os “taxi-bikes” ou, como chamados na língua local “boda-boda”. Uma forma desconfortável, mas barata de transportar pessoas em curtas distâncias e ainda ganhar um trocado.

Em Nairobi também tem muito taxi, cujos preços são razoáveis. É um meio de transporte muito útil, principalmente após as 18 horas, quando andar por Nairobi pode ser bem perigoso principalmente para turistas branquelos desinformados.

Uma forma de viajar longas distâncias são os ônibus interregionais. Em comparação com os matatus, são melhores porque são maiores e não porque são mais seguros. Uma batida em um matatu é muito pior, pois ele é menor, mas um motorista de  ônibus é tão maluco quanto um motorista de matatu. Mas é preciso explicar que existe “o” ônibus e “O” ônibus, ou seja, dependendo do ônibus você não terá nem conforto e muito menos segurança. Digo isso, pois vimos muitos ônibus em estado precário e absurdamente empanturrados de pessoas dentro e fora deles. Isso mesmo. Junto com bagagens no teto, existiam passageiros. Essa aventura dispensamos.

Usamos “O” ônibus para ir de Nairobi para Nakuru. O pior da viagem foi antes dela começar. Como não sabíamos direito onde pegar o ônibus, apareceu um cara querendo empurrar pra gente uma viagem num ônibus qualquer e ficou nos pressionando e nos perseguindo para irmos com ele. Fiquei, de verdade, com medo e chegou a me dar desespero porque por mais que mandássemos o cara embora, ele não ia. No fim, o cara sumiu e nós pegamos nosso ônibus. Quando entramos, quase vomitamos, pois o cheiro de “eu não sei o que é banho há anos” estava insuportável e todas as janelas estavam fechadas. Quando começou a andar, abrimos as janelas e a coisa ficou menos pior. De repente comecei a perceber que o ônibus estava fazendo um movimento lateral estranho e, infelizmente, perguntei pro Rô o que podia ser aquilo. Nada, apenas a possibilidade de eixo empenado. Lógico que nem quis saber das possíveis consequências. Durante o caminho o ônibus foi parando pra pegar mais gente, inclusive um vendedor ambulante, vendendo ameixas igual tinha na casa da minha avó em Ribeirão Pires. Saudades. Enfim, chegamos são e salvos ao destino final. Amém.

TRÂNSITO

Hein? Trânsito? Sinceramente não acho que essa seja a melhor definição a ser dada para o que acontece no Quênia, porque lá não se transita… se empurra, se esbarra. Não existem regras e muito menos semáforos que funcionem. O fato de estar verde ou vermelho não muda absolutamente nada, nem para os carros e muito menos para os pedestres. Quer atravessar? Vá. Não espere que ninguém pare porque o sinal está vermelho. Olhe para todos os lados, sinal da cruz e siga em frente. AH! E, pra piorar, o sistema aqui é como na Inglaterra, ou seja, tudo invertido, começando pelo lado do motorista e piorando no sentido que os carros vem e vão.

Tem quem seja louco o suficiente para alugar carro por essas bandas, mas eu, sinceramente, não aconselho. Apesar que, pensando bem, não sei o que pode ser pior: bater em um matatu ou estar em um matatu que bateu. (((-:

HIGIENE LOCAL

O conceito ocidental de higiene parece ser completamente desconhecido tanto pelas tribos, quanto por boa parte dos cidadãos quenianos e, por isso, todo cuidado é pouco.

Não beba água de torneira em hipótese nenhuma, mesmo que veja um deles fazendo isso. Eles já criaram resistência, nós não. Inclusive pra escovar os dentes é melhor que se use água mineral comprada, pois se estiver com uma cárie a coisa pode se complicar, pois é um orifício que pode ser infectado.

Existem poucos restaurantes “confiáveis” fora da cidade de Nairóbi, mas existem. Procure com cautela, observe o local e já irá sentir se dá pra confiar ou não. Nós comemos algumas vezes em restaurantes “pra turista”, mas na maioria das vezes comemos em restaurantes pra locais e não tivemos, aparentemente, problema nenhum com isso. Mas evitamos comer coisas cruas, frias ou fritas.

Os banheiros são, no geral, utilizáveis. Mas é lógico que você não irá sentar na privada, certo? E tenha sempre papel com você, pois serão RARAS as vezes que encontrará papel disponível. A descarga também não funcionará muitas vezes e isso não tem o menor problema. Pode dormir tranquilo, pois ninguém vai deixar de usar esse banheiro por causa disso. (((-: Isso mesmo. É normal. Lembre-se que já estará no lucro se tiver privada. (((-:

Apesar de termos visto tanta sujeira, tanto lixo espalhado pelas ruas (principalmente fora de Nairobi), não vimos muitas baratas. Aliás, eu não vi nenhuma, mas o Rô disse que viu uma pequenininha em um dos hotéis que ficamos. Já rato não só vimos, como dividimos quarto com um deles. Tão bunitinho! (((-: Foi no refúgio no Monte Quênia a 3300m de altitude. Ratinho valente! Morar nessa friaca não é fácil pra um bichinho que não tem quase pelos. Tá bom, só estou fazendo piada hoje, mas no dia quase surtei. Não dei nenhum piti, pois sou uma lady, mas não sosseguei enquanto o Rodrigo não deu um jeito de botá-lo educadamente pra fora. No fim ele foi caçado pelo rabo e jogado pra fora, mas durante a noite fez tanto frio que fiquei com peso na consciência, afinal ele morava ali primeiro. (((-:

Banho é luxo. Banho quente é quase uma ilusão. Banho de gato é rotina. (((-: Pois é, para essa viagem compramos as famosas “handtuch” (toalha de mão) dos alemães, pois imaginávamos o que nos esperava. Banho de chuveiro no Quênia parece ser um luxo destinado à classe média, alta e aos turistas abastados. Só. E olhe lá. Até nós, como turistas, quase tivemos que tomar banho de caneca em um dos hotéis que pernoitamos em Namanga (cidade base para Safari no Parque Nacional Amboseli). No banheiro tinham dois baldes e cada um tinha uma canequinha de plástico pendurada. Pela manhã, quando estávamos saindo do quarto (sem banho) pra ir embora, o cara do hotel estava indo na direção do quarto com o balde cheio de água quente. Ufa! Foi por pouco. (((-: Mas pior mesmo foi no acampamento do Maasai Mara, onde tivemos que tomar banho frio. Já no Monte Quênia nem preciso falar que banho só nos nossos sonhos e orações. (((-: Dá-lhe toalhinha de alemão e lencinhos umidecidos fragância camomila! (((-:

A maior tradução de falta higiene são as feirinhas populares que presenciamos principalmente em Nakuru (cidade base para o Parque Nacional Nakuru). Geralmente os produtos são colocados sobre um plástico ou papelao no chão e as bananas num carrinho de carregar cimento. Enfim, uma foto como a foto do início do tópico pode substituir qualquer tentativa de descrição.

POBREZA

Infelizmente o Quênia (junto com muitos outros países africanos) é um dos países mais pobres do mundo, onde a desigualdade social é absurda e alarmante. Além disso, o índice de desnutrição é explícito, pois é comum ver pessoas extremamente magras em todos os lugares. Mas o mais impressionante é ver que muitas dessas pessoas possuem, apesar da subnutrição, força para caminhar até mesmo quilômetros carregando peso.

Só vimos padrões médios de qualidade de vida nos estabelecimentos turísticos e em uma região de Nairóbi, afastada apenas alguns quilômetros do centro. Vimos vários condomínios de luxo fechados e prédios da classe média. E, enquanto isso na extensa periferia, o povo vive, com sorte, em casas de lata sem janela.

Fora da área nobre só vimos pobreza extrema e falta de oportunidade. Durante todo o dia se vê muita gente nas ruas, principalmente homens, o que nos remete à idéia de falta de empregos para tanta gente. Todos os dias as ruas estão lotadas de gente encostada. Simplesmente batendo papo pra hora passar ou tentando vender qualquer coisa a qualquer preço.

Outra situação curiosa e comum é o tráfego intenso de pessoas nos acostamentos das rodovias. Alguns vendendo mato, outros frutas como banana, outras batatas e outros apenas caminhando com destino ou sem destino. Não sei.

Só sei que uma das cenas mais chocantes que vi nesses acostamentos foi um mundaréu de gente se expremendo pra pegar água potável em uma bomba aparentemente pública de água. Pensei comigo: “água????”. Meu Deus quando eu podia me imaginar passando num lugar onde as pessoas mal tem acesso a ÁGUA???? E eu, estando lá como turista, tinha água quando eu queria. Sem dificuldades. Sem desespero. Sem ter que percorrer quilômetros carregando num carrinho vários galões a serem preenchidos e transportados mais alguns quilômetros de volta. Pensei no Brasil. Pensei no nosso nordeste. Não consigo aceitar e muito menos entender. Não consigo.

Além dos desempregados e dos desesperados, vê-se muitas crianças sempre uniformizadas vindo e voltando das escolas a pé e carregando um galãozinho de plástico, no qual levam água para a escola, uma vez que muitas escolas não tem água.

Além disso, elas devem andar muitos quilômetros diariamente, pois muitas escolas são distantes. O curioso é que as crianças quenianas não são obrigadas por lei a ir pra escola (diferente do Brasil), mas, segundo um queniano que conhecemos, fazem questão de ir, por mais que tenham que enfrentar quilômetros de andanças e sede pra isso. São curiosas e tem um brilho no olhar encantador. Nos transmitem paz e esperança.

Um dia observamos algumas meninas voltando da escola sem sapato, mas também observamos que elas carregavam os sapatos nas mãos. Me perguntei naquele momento qual o motivo delas tirarem o sapato. Será que era mais confortável ficar descalça ou será que elas ainda valorizam uma das coisas mais gostosas do mundo que é pisar na terra? Não sei o que as motiva, mas sei que me deu uma saudade de pisar descalça na terra de novo. Vou ter que esperar dezembro pra pisar não só na terra, mas como na minha terra. (((-:

Nesse mesmo dia vi uma cena marcante. Vi um menininho caminhando na beira de uma estrada de terra puxando pela cordinha um carrinho feito por ele. Era um carrinho feito com um galãozinho deitado, no qual ele colocou quatro rodas feitas de madeira. Tive um sentimento puro, mas também um pouco triste. Não por ele, mas por mim e por todas as crianças que choram ou choraram porque não tem ou não tinham o carro da barbie. Mexeu comigo. Mexeu com meus valores e tenho certeza que me ensinou muito sobre como criar meus filhos. Pelo menos vou tentar criá-los com simplicidade, mesmo sabendo que hoje em dia é muito difícil conseguir isso. Quero um dia mostrar essa foto pra eles e provar que é o simples que nos faz feliz de verdade. O que para nossas crianças é imprescindível, para as crianças pobres é inatingível e, talvez, indiferente.

Observando diariamente tanta pobreza é impossível não parar para refletir sobre o que é ser pobre. Às vezes penso que o que é pobreza para os países mais desenvolvidos, é normal para países como Quênia. Acreditem: eles são felizes. Pra mim é triste, pois ali não tive acesso a quase nada do que tenho e tive durante minha vida toda, mas me pergunto: “Será que se eu nunca tivesse tido o que tive até hoje sentiria falta? Será que faria diferença pra mim, sendo que eu nem saberia que existe?”. Acho que não. Acho que só ficamos alarmados porque nossos valores são outros. Acredito que só se sente falta daquilo que se conhece. Teve um momento onde estávamos no meio de um lugar horrível, sujo, com pessoas maltrapilhas e muito muito lixo espalhado pelas ruas, mas todas pessoas ali (exceto nós) estavam rindo, conversando, convivendo pacificamente. Então pensei: “quem tem que ter dó de quem? nós deles, somente por que eles desconhecem o nosso padrão de conforto e bem-estar ou eles de nós porque não sabemos mais dar valor à coisas que o dinheiro não pode comprar?”. Após esse pensamento senti um mal-estar estranho. Me senti arrogante por ter pena de quem não tem o que eu tenho, como se eu tivesse a certeza suprema de que o meu é melhor. Será que é? Não sei.

Um dia pegamos um matatu para voltar para Nanyuki na beira da estrada, ou seja, ele já estava lotado e nós tivemos que nos espremer entre as pessoas que já estavam lá. Fui pro fundão e “sentei” (na verdade me espremi) entre uma senhora e uma jovem. Mas o que era pra ser uma viagem terrível, por causa da falta de conforto, foi uma das melhores lembranças que vou ter da viagem toda. A senhora ao meu lado começou a puxar conversa comigo perguntando de onde eu era e, quando eu disse que era do Brasil, ela ficou toda curiosa (como todos) e começamos a conversar. Seu nome é Jane. Eu perguntei pra ela se ela pegava aquele transporte, naquela situação todos os dias e ela me disse que sim sorrindo, sem reclamar de nada. Me contou que o cobrador era um guia renomeado e só trabalhava ali pra ganhar mais uns trocados. Depois perguntei se ela tinha emprego, pois percebemos que a maioria das pessoas de lá são desempregadas e ela me disse que não, não tinha um emprego e que conseguir um emprego no Quênia é extremamente difícil, mas que é preciso seguir em frente. Foi então que eu disse pra ela o quanto eu admiro pessoas como ela, que mesmo com tantas dificuldades, conseguem ser felizes e otimistas, pois nós que temos mais oportunidades vivemos reclamando e custamos a encontrar tempo para sorrir sem sermos remunerados por isso. Falei que fico impressionada em ver que, apesar de tudo, muitos quenianos são sempre simpáticos e prestativos e ela me disse: “Você sabe, nós temos que nos ajudar porque somos todos, antes de mais nada, seres humanos e, se não nos ajudarmos, não sobrevivemos. Isso é o mais importante”.

E eu me pergunto: “Uma mulher com essa sabedoria pode ser chamada de pobre?”. Acho que não.

SAFARIS

Safari é uma palavra originária do Swahili que significa expedição. Relacionada à idéia de Safari, também existe a expressão em inglês “Game-Drive”, o que dá nome a um safari feito em veículo 4×4.

Ficam no Quênia alguns dos melhores safaris africanos, principalmente no Parque Nacional Maasai Mara e no Parque Nacional Amboseli. Nesses safaris não é permitido sair dos carros e muito menos se aproximar a ponto de tocar nos animais, a não ser que você queira perder alguns dedinhos. (((-:

O ambiente é REALMENTE selvagem, ou seja, nenhum bicho lá é alimentado por pessoal contratado e não existem grades cercando os parques. Isso implica em afirmar que você poderá cruzar com esses bichos em qualquer lugar do Quênia. Nós mesmos vimos girafas, gazelas, babuínos, antílopes, avestruzes, búfalos e zebras pra todo lado enquanto passávamos pelas estradas.

Para entrar nos parques é necessário estar com um carro 4×4 e com um guia, além de pagar as devidas e absurdas taxas. Você pode ir com um grupo ou alugar um carro e contratar um guia. A escolha é sua, mas eu ainda acredito que a melhor opção é procurar um grupo, pois assim os custos são menores e você ainda aumenta a possibilidade de conhecer pessoas interessantes. Além disso, as agências são bem “hermanas” e os carros dessas se comunicam o tempo todo através de PX para informar onde estão os bichanos e onde o bicho está, literalmente, pegando. (((-:

* Parque Nacional Maasai Mara ( mais fotos aqui )

Decidimos ir para esse parque (que é o melhor, mas não o maior, no Quênia) em cima da hora, pois ele nem estava no nosso plano inicial. Foi a melhor decisão de última hora que tomamos nesse viagem. O lugar é FANTÁSTICO e vimos tantos animais que chegou um determinado momento onde olhávamos para as zebras, gazelas, búfalos e os gnus (um bicho estranho que parece um cruzamento de égua com boi) como se fossem apenas dóceis cachorrinhos. (((-:

Esse parque é famoso, principalmente, porque é entre ele e o Parque Serengueti (Tanzânia) que ocorre a grande migração anual de vários animais, principalmente gnús (wildebeest) e zebras. Em julho de cada ano, estes animais desengonçados migram para o vasto norte das planícies do Serengueti buscando pasto fresco e voltando ao sul em outubro (vimos um monte!!!).

A grande migração é uma dos eventos naturais mais impressionantes, envolvendo uma imensidão de herbívoros: algo em torno de 1.300.000 gnus, 360.000 gazelas-de-thomson e 191.000 zebras. Estes numerosos migrantes são seguidos ao longo de sua rota anual por um bloco de predadores famintos, particularmente leões e hienas.

Outros antílopes numerosos podem ser encontrados, incluindo as gazelas-de-thomson e de-grant, a impala, o topi e o búbalu. Grandes manadas de zebras são também encontrados por toda a reserva.

As planícies são também os lares da girafa-masai assim como da girafa comum. Adicionalmente, mais de 450 espécies de pássaros foram identificados no parque, incluindo, abutre, cegonha, secretário, calau, grua-coroada, avestruz, águia-de-crista-longa e falcão-pigmeu. (Wikipédia)

Chegamos no acampamento e depois já fomos aproveitar o final da tarde para visitar o parque. Ficamos alucinados em ver todos aqueles animais convivendo em harmonia juntinhos num lugar com paisagens alucinantes. E, nesse dia, pegando o final do entardecer, a cor da relva seca só fez aumentar a nossa compulsão fotográfica. (((-:
Na hora de dormir foi um parto, pois eu estava ouvindo “coisas” e só consegui dormir depois que as “coisas” ficaram quietas. No outro dia descobri que as “coisas” eram hienas. Afff… odeio hienas! São escandalosas e preguiçosas, pois só comem o que já tá morto. Bom, pelo menos esse é um motivo para eu não temê-las. (((-:

No segundo dia, ficamos o dia inteiro no “game”. Vimos 4 dos famosos “big-five”: elefante, leopardo, leão e búfalo. Faltou apenas o rinoceronte que, apesar de ainda existirem algumas dezenas dos pretos, são vistos raramente nesse parque. Os “big-five” são utilizados como chamariz pelas agências de turismo, mas na verdade essa definição não diz nada de concreto sobre os bichos que formam esse grupo. Essa definição foi dada em tempos remotos, pois alguns caçadores consideravam esses os bichos selvagens mais perigosos para se caçar. Mas, olhando pro elefante, é impossível acreditar que ele seja perigoso, não é!? (((-: Mas ele pode ser sim. Os guias aconselham uma distância de 50m do bichão e, depois que li num jornal local que duas pessoas foram mortas por elefantes, decidi levar essa informação a sério. (((-:

Pra fechar o dia fomos fazer um pic-nic e depois seguimos para o Rio Mara, a fim de visitar os hipopótamos e seus companheiros crocodilos. Nesse passeio pudemos (enfim) sair do carro e andar um pouco no meio do mato, mas acompanhados por um cara do exército bem armado para casos de emergência. Para a alegria do Rodrigo vimos um monte de hipopótamos. Alguma semelhança nas fotos abaixo??? (((-:

Acredito que os hipopótamos são inofensivos pra nós, pois são herbívoros, mas os crocodilos são perversos e comem os animais descuidados que se atrevem a atravessar pelo rio (aliás, tem até uma ponte que eles poderiam atravessar, mas acho que são meio desinformados mesmo…). Uma prova do perigo é a quantidade de ossadas na beira do rio. Bobeia pra tu vê! (((-:

Fiquei encantada com um filhote de hipopótamo que estava sozinho na beira do lago, mas ao mesmo tempo ficamos apreensivos, pois o militar disse que, estando ali, ele seria normalmente devorado pelo seu crocodilo. Deu vontade de ir lá e tirar ele, mas nem eu e nem ninguém tem o direito de mudar os destinos na selva. Paciência.

O hipopótamo é um mamífero enorme que tem uma capacidade incrível de ficar durante muito tempo submerso na água. O mais gracioso nele é quando ele mexe suas pequenas e desproporcionais orelhas que nem um helicóptero. E o mais nojento (que eu nunca tinha visto) é quando ele defeca na água. Urgh!!!! Ele vai liberando o troço e rodando o rabo pra dispersar os resíduos na água. É nojento!!!!! Urhggggg!!!! Depois de ver isso achei ele menos bonitinho. (((-:

No último dia acordamos (aliás madrugamos) às 6 da matina e fomos para a última e mais excitante etapa do game: a caçada. Na verdade, fomos meio desanimados, pois já tínhamos visto tanto bicho que não acreditávamos que iríamos ver nada diferente. Engano absurdo! Esse “game” matutino é feito pelas agências para tentar a sorte de assistir de camarote o “café-da-manhã” dos reis: os leões.

Quando perguntamos pro guia o que iríamos ver de diferente para justificar acordar tão cedo, ele disse: “Na Selva tudo é imprevisível. Se deixe surpreender.” Hummm… Mentiiiiiiiiiira… Ele sabia muito bem o que nos esperava, caso tivéssemos sorte. Mas não posso negar: ser surpreendida foi muito melhor e excitante! (((-:

Todos os carros seguiam a mesma rota: a rota dos leões e leoas. Quem identificava um grupo se movimentando, avisava através do rádio os outros e todos seguiam com a esperança de que o “bicho pegasse”. Num primeiro momento começamos a seguir uma leoa que se direcionou para um grupo de zebras. A leoa andava calmamente, quando de repente passou um avestruz macho que parecia ter ido avisar o bando de zebras sobre o perigo. Isso prova que leão não deve gostar de comer avestruz. (((-: As zebras ficaram tensas, mas não correram. Acho que elas ficaram em estado de choque. Mas eis que a leoa passa ignorando aquele grupo e segue sem destino.

Desistimos dela e, avisados pelo rádio, fomos de encontro à um grupo de 3 leões aparentemente famintos. Sim! Eles estavam famintos e decididos a atacar um grupo suculento de búfalos. Todos os carros presentes no parque estavam ali e formaram um círculo para ver o espetáculo da vida selvagem. Os leões se posicionaram e sentaram como se nada estivesse prestes a acontecer. Cínicos. Ficaram por quase uma hora paralisados, observando a manada de búfalos se dispersar rapidamente. Mas a natureza é fantástica! Existia um grupo gigante de búfalos, mas apenas meia dúzia ficou ao alcance de seus predadores. Os demais se afastaram. Os que sobraram estavam prestes a se sacrificar pelo grupo ou lutar por ele. Foi lindo ter essa certeza. Leões estáticos, búfalos estáticos. Olhares.

De repente, pro delírio da galera (só de contar já sou tomada pela excitação do momento) os búfalos começam, ao invés de fugir, ir em direção aos seus predadores. Meu Deus! Como entender isso???? Todos estavam esperando o contrário, ou seja, que o leão atacasse. Mas não. O búfalo, segundo o guia, é um animal extremamente valente e que pode sim vencer um conflito com leões. Maaaaas não foi dessa vez. Os leões identificaram o mais novo e fraco e o atacaram impiedosamente.

O primeiro abocanhou a jugular do pobre búfalo, o outro pulou nas costas e o outro pegou a pata traseira. Mesmo assim o búfalo ainda resistiu por alguns instantes de pé, mas logo caiu e se rendeu ao seu destino natural: ser caçado.

Achei LINDO! Foi estranho sentir isso, pois a maioria das pessoas deve ficar com dó do búfalo, mas eu não. Vi tudo aquilo como um processo justo e harmonioso. É a cadeia alimentar funcionando como ela deve funcionar. Tinha uma menina (chaaaaaaaaaaata) americana no nosso grupo que começou a chorar desconsoladamente e eu pensei: “Será que ela chora todos os dias quando assiste aos noticiários americanos e quando vê quantas mortes não naturais estão ocorrendo por causa do governo do seu país?” Sei que ela, diretamente, não tem culpa, mas chega a ser engraçado uma situação dessas sabendo que ela votou e vai votar de novo no Sr. Bush. Antes ver animais se matando (o que é natural), do que ver homens agindo como animais e fazendo o mesmo (o que é brutal).

Pra fechar voltamos com um apetite de leão para o acampamento e tomamos um super “breakfast” ao ar livre com direito à algo parecido com nossa rabanada no sabor banana. Huuuummmm! Delícia! A rabanada, pois salsicha, ovo e bacon logo de manhã me deram até calafrio. Afff…

* Parque Nacional Nakuru ( mais fotos aqui )

Esse parque é famoso mundialmente principalmente por possuir o “Lago Nakuru”, onde ocorre uma das maiores concentrações de flamingos no planeta. Além disso, é possível ver um dos “big-five” mais difíceis de se encontrar por estar em linha de extinção: o rinoceronte branco.

Quando chegamos na beira do lago ficamos maravilhados com aquela mancha rosa sem fim. Centenas, milhares de flamingos pousados na beirada do lago quietinhos, como se estivessem posando para as dezenas de máquinas fotográficas ali presentes. Achamos que o número de flamingos ali era absurdo, mas o guia nos disse que estava vazio. Ele disse que, na época de migração, o lago é praticamente todo tomado por eles e aí sim é absurdo! Esse lago é um lago de água salgada, mas não me pergunte como essa água salgada foi parar lá. Não tenho a menor idéia, mas acho interessante observar isso. Quando chega lá, já sente o cheiro da maresia. (((-:

Depois de centenas de fotos de flamingos eu só queria saber de uma coisa: de ver os rinocerontes brancos. E chegou a vez deles. Eram muitos!!! Bom, acho que pra ficar branco mesmo ele teria que tomar um banho de água sanitária, mas tá bom… Parecia um sonho. Tá, na verdade um pesadelo, pois eles são bem feinhos e esquisitos. Mas são raros e futuramente inexistentes e é por isso que todos ficam excitados em vê-los, pois pode ser que nossos filhos ou netos não tenham essa chance. )))-:

E, pra encantar ainda mais, surgiram dezenas de pelicanos, formando uma mistura natural incrível na beira daquele lago. INESQUECÍVEL. INDESCRITÍVEL. VIDA.

Mas onde existe vida, existe morte. É um processo necessário e natural. E é por isso que as hienas e os abutres existem em lugares como esse: pra fazer a fila andar. (((-:

* Parque Nacional Amboseli

Queríamos chegar. Pagamos pra chegar. Mas não chegamos. Acontece.

Só queríamos ir nesse parque ver um dos lados do Monte Kilimanjaro que fica na borda entre Tanzânia e Quênia. Mas não vimos. Não vimos porque não conseguimos chegar no parque e, também, se tivéssemos chegado não iríamos ver, pois nesse dia existiam mais nuvens no céu do que flamingos no Lago Nakuru.

Por que não chegamos? Fomos engambelados pelo agente de turismo e pelo guia. Quem quiser saber os detalhes, é só perguntar, ok!? Infelizmente é um episódio que não merece ganhar espaço aqui.

TREKKING – MONTANHISMO – MONTE QUÊNIA (MOUNT KENYA) ( mais fotos aqui )

O Monte Quênia, com uma altitude de 5199m, é a segunda maior montanha do continente africano, perdendo apenas para o Monte Kilimanjaro na Tanzânia. Com os seus cumes vestidos de glaciares e encostas arborizadas, o Monte Quênia oferece um dos mais impressionantes panoramas da África, tendo sido inscrito pela UNESCO, em 1997, na lista dos locais que são Património da Humanidade. O Parque Nacional, estabelecido em 1949, foi reconhecido como Reserva da Biosfera em 1978 e, em conjunto com a Floresta Nacional, ocupam uma área protegida de 142 mil hectares. (Wikipédia)

Nos preparamos e planejamos subir pela Rota Sirimon até o segundo refúgio a 4200m de altitude. Chegamos, inclusive, a pensar em fazer o ataque a um dos picos, o Ponto Lenana (4895m), mas minha saúde dessa vez não cooperou com nossos planos. )))-:

Pensamos em fazer a trilha em 3 dias, ficando apenas duas noites na montanha, mas, um dia antes de partir para a trilha, fiquei muito gripada e, conforme íamos subindo a montanha, pior eu ia ficando. No primeiro dia subimos 9km a partir do “Sirimon Gate” (2.600m) até o primeiro refúgio (3300m). Detalhe que subimos carregando todas nossas coisas, pois não contratamos um carregador, mas apenas um guia, que é obrigatório.

Quando chegamos no refúgio meu nariz estava completamente entupido e isso é gravissímo em altas altitudes, pois a partir de aproximadamente 3.000m é comum que muitas pessoas comecem a sofrer do que eles chamam de “mal da montanha”, pois o ar é muito rarefeito e isso traz, para quem não está “aclimatado”, consequências ruins e até mesmo trágicas. O Rodrigo pensou em desistir de continuar porque eu estava realmente ruim, mas eu (a loka) insisti pra irmos um pouco além e valeu a pena. (((-:

Ao contrário da maioria esmagadora dos turistas europeus e americanos, nós só contratamos o guia e mais nada. Nós cozinhamos pra nós utilizando um fogão de altitude que o guia nos emprestou (só pagamos o querosene) e comemos no pinico do guia com duas colheres. Tá bom, é mentira. Não é um pinico (espero), mas que parece, parece. (((-:

Nessa primeira noite achei que ia morrer. Sério. O refúgio que ficamos não tem aquecimento nenhum, ou seja, a temperatura interna era praticamente a mesma temperatura que estava do lado de fora. Meu nariz estava completamente entupido e, por causa do ar gelado e falta de ar, minha garganta ficava o tempo toda seca, quase obstruída. Passei horas levantando pra tomar água com medo da minha garganta fechar. O Rodrigo, por minha causa, também não dormiu nada. Acredito que foi a pior noite de sono da minha vida, pois naquele lugar o acesso às coisas é muito difícil e, se algo acontece, pode ser fatal.

Acordamos e decidimos ficar mais um dia naquele refúgio pra ver se eu melhorava e ai sim poderíamos seguir para o refúgio Shipton (4.200m). Mas, como sou inquieta e teimosa, insisti com o Rodrigo pra fazermos um trekking no sentido do próximo refúgio. Não existia a possibilidade de ir até esse e voltar, pois só o percurso de ida leva 8 horas. Pegamos uma das rotas possíveis e fomos até a metade, o que levou aproximadamente 4 horas de ida e umas 2 de volta. Uma paisagem e uma flora indescritívies e, ainda por cima, tivemos o prazer de ver os picos nevados do Monte Quênia com seus glaciares, aparecendo após as nuvens o abandonarem. Fantástico. Único.

Dormi bem melhor nessa noite, mas não melhorei e decidimos não subir mais pro próximo refúgio. Mas, pra aproveitar a viagem, decidimos subir de novo na direção do refúgio Shipton, mas dessa vez por outra rota. E foi nessa rota que o Rodrigo foi possuído por um espírito japonês e começou a tirar fotos descontroladamente! (((-:

Mas não tinha como ser diferente. A paisagem que vimos não existe. Só pode ser miragem e foto nenhuma consegue mostrar o que é de verdade. Acreditem.

Chegamos nesse dia na nossa altitude máxima de 4.100m, o que já é uma senhora de uma altitude, considerando que o pico mais alto do Brasil tem “apenas” 3.014m (Pico da Neblina).

Nessa noite o Rodrigo viu os guias e carregadores fumando maconha e ai pensei (mente fértil): “Se um dos caras que é contra a legalização da maconha visse quanto peso (dos outros) esses caras carregam numa montanha, o consumo de maconha não só seria liberado, como também seria recomendado por todos médicos e cientistas.” (((-:

Voltamos, almoçamos, empacotamos as coisas e voltamos com um sentimento misto de alegria e de tristeza. De tristeza por não termos chegado exatamente onde queríamos, mas felizes por termos a oportunidade de ter visto tanta beleza de forma responsável (graças ao Rodrigo), podendo voltar agora pra contar. (((-:

PASSEIOS

* Lago Naivasha ( mais fotos aqui )

Esse passeio nem estava nos planos, mas como íamos ficar meio dia de bobeira decidimos ir nesse lago com o grupo do safari. Nada de especial, só pra tapar buraco mesmo. (((-:

Mas até rolou umas fotinhos bacanas. Passamos de barco do lado de um monte de hipopótamos e vimos uma águia (ave que AMO) pegando um peixinho com suas garras. Se olha a foto bem atentamente, vai ver o peixinho. Assim espero! (((-:

* Nairóbi ( mais fotos aqui )

Nairóbi é a capital do Quênia, onde está concentrada a burguesia e classe média desse país. É uma cidade que muda de cara em apenas alguns quarteirões. Você está no meio de um lugar horrível, imundo e pobre, mas de repente anda um pouquinho e já começa a achar que está na Avenida Paulista. Juro.

É, assim como qualquer grande cidade do Brasil, um palco de contrastes sociais. A diferença é que se vê muita pobreza e quase nenhuma riqueza. A diferença que existe entre as classes sociais é muito mais intensa do que no Brasil e isso você percebe logo que chega lá.

No centro existem algumas áreas mais frequentadas por turistas que tem 2 seguranças em cada esquina, mas, saindo dessa região, ou seja, indo para as regiões centrais do povão,, não existem mais praticamente seguranças nas ruas, somente nos bancos e olhe lá.

Não há muito o que se fazer em Nairobi, mas para comprar lembrancinhas reserve um último final de semana para ir numa feirinha livre que fica no pátio do Conselho Nacional de Nairobi. Nós reservamos nosso último dia, um domingo para fazer isso e nos divertimos até. Sim, porque NADA tem preço nesses comércios populares do Quênia e você se esgota pra negociar um bom preço. O que é um bom preço? Ninguém sabe, mas não se sinta mal de começar negociando por um terço do primeiro preço que o comerciante te dar. Até um quinto não ofende ninguém. (((-: Eu sou péssima pra isso, pois sei que o que eles estão cobrando não significa absolutamente nada pra gente e fico me sentindo mal de choramingar por desconto, mas o Rodrigo é um gênio nessa arte. No Brasil eu consigo sem remorsos, mas na África meu coração não permite. (((-: Mulher. Fazer o quê.

Só sei que nesse dia ficamos famosos na feirinha, pois éramos quase os únicos turistas da área e começamos a nos divertir negociando. Todas os vendedores das banquinhas vizinhas começaram a nos pressionar pra ir ver seus produtos. A mulher com quem negociamos primeiro era uma senhora muito fofa que no final da negociação apertou minha mão e ficou segurando e rindo como se o que tínhamos acabado de fazer fosse apenas uma brincadeira divertida entre amigos. Foi cansativo, mas delicioso negociar com ela.

Outro momento especial em Nairobi foi nossa primeira e única “balada” queniana. O Hotel onde ficamos em Nairobi tinha uma localização ótima, ficando de frente para um “shopping” onde tínhamos tudo que precisávamos, inclusive música típica africana ao vivo. (((-: Estávamos no mercado comprando água quando começamos a ouvir um som vindo do andar de cima. Mais alguns segundos e sacamos que se tratava de música ao vivo. Sem pensar duas vezes fomos pagar pra ver. Era um bar com música ao vivo e com uma super promoção para o consumo de cerveja, ou seja, o famoso “peça duas e leve três”. Demorô! (((-:

Ficamos lá por algumas horas e só fomos embora porque estava realmente tarde. Foi delicioso, pois era um lugar frequentado somente por locais e quando a banda tocava uma música na língua deles era delicioso ver como as pessoas cantavam e dançavam com sentimento. Nesse momento pensei como nós, brasileiros, somos privilegiados por termos tantos cantores e cantoras nacionais que cantam e encantam na nossa língua mãe. Pensei em como é importante para um povo cantar na sua própria língua para se sentir realmente tocado por cada frase. É tão diferente. É tão rico. Arrepiei.

* Linha do Equador (Nanyuki)

A linha do equador é uma linha imaginária que divide a terra em dois hemisférios: o norte e o sul. No Brasil ela passa em Macapá (Amapá) e na África ela passa em 7 países diferentes, inclusive no Quênia. Nas regiões por onde essa linha imaginária passa é possível observar que, quando dá meio-dia, o Sol se encontra exatamente acima de nossas cabeças, o que não acontece nos outros lugares. É doido! Mas mais doido ainda é quem compra os certificados que são vendidos lá, atestando que você esteve na linha do equador. Aff.

Um efeito curioso que é observado de forma diferente estando ao sul ou ao norte da linha do equador, é o “Efeito Coriolis”. O efeito existe, mas é quase certeza de que não é possível observar sua diferença a apenas 50m de distância do equador. Através desse efeito, é possível observar a diferença do sentido de rotação da água em um recipiente. Em outras palavras, quando você dá descarga no hemisfério sul, o redemoinho gira pra um lado, enquanto a mesma descarga dada no hemisfério norte gera um redemoinho que gira no sentido oposto. E é essa demonstração que é “vendida” aos turistas que visitam a linha do equador (bom, ao invés de descarga eles usam um jarro d’água e um funil…). Há quem diga que quem faz isso é um bando de charlatões, mas há quem diga que não. Depois de ler muito, decidi registrar sem afirmar ou negar nada. Deixo isso para os especialistas de plantão. (((-:

* Mau Mau Cave (Nanyuki) ( mais fotos aqui )

Voltamos do Monte Quênia quebrados, pois no último dia percorremos 20km de trilha e nossas perninhas despertaram no outro dia doendo um bucadinho. (((-: Sendo assim, decidimos fazer um passeio “light” nas redondezas da cidade de Nanyuki. Fomos até a Caverna do Mau Mau, local onde foi arquitetado o plano para promover a independência do Quênia, que durou aproximadamente 10 anos.

É um trajeto de 6km, mas tranquilo, plano e normal. Uma caverna normal, estrada de terra normal e paisagem normal. Mas, caso queira um dia sem muitos esforcos, é um passeio bacana. Mas contrate guia, pois tem muita bifurcação durante o caminho e muitos animais selvagens costumam dar uma passadinha por lá. Só por precaução. Maaaas se conhecer alguém do povo local que possa te levar, melhor ainda. Já economiza essa. (((-:

SEJA VOLUNTÁRIO

No único passeio que fizemos em grupo, conhecemos quatro jovens que estão sendo voluntários no Quênia. Cada um vem de um lugar: dois são irlandeses, uma é da Bósnia e a outra é uma americana chaaaaaata.

É uma maneira interessante (mas não barata) de ajudar países como o Quênia e também uma forma rica de vivenciar uma realidade difícil, mas enriquecedora e transformadora de valores pessoais.

Segundo eles, você tem que arcar com todas as despesas de passagens aéreas e locomoçao, e o seu trabalho não é muito bem definido. Você chega lá e faz o que puder ou o que tiver pra fazer. Eles estavam alocados próximos à uma vila aparentemente muito pobre. As meninas iam trabalhar na escola com as crianças e o moço provavelmente ia trabalhar construindo casas ou coisa assim. Quando os encontramos, só a americana já estava trabalhando, os demais iam começar somente após o passeio.

Não é fácil. Disso você pode ter certeza desde já. Mas acredito que vale a pena se você tem dinheiro. (((-:

Essa viagem me despertou (mais uma vez) a vontade de fazer isso, mas pelos nossos. Isso porque sei que, ao contrário dos europeus em geral, nós temos muita pobreza e miséria no nosso próprio país. Quero poder um dia contribuir principalmente na educação das crianças que habitam lugares assim, pois acredito que esse é o melhor investimento que alguém pode fazer e o maior presente que alguém pode receber.

Pra quem tiver interesse e quiser saber mais é só acessar os sites (em inglês) abaixo:

www.vso.org.uk

www.volunteerabroad.com

CURIOSIDADES

– “HAKUNA MATATA!”. Vocês se lembram da música do filme “O Rei Leão”? Pois é, quando ouvi essa expressão logo lembrei da música e descobri agora que ela usa somente essa expressão em Swahili e o resto da música fala em inglês sobre o quão bela é essa expressão, pois ela representa uma filosofia de uma vida sem problemas. Traduz exatamente a forma como os quenianos sobre-vivem. Nada para eles parece ser um problema, por mais que pra gente seja o fim do mundo. (((-:

– O pai do Barack Obama (se Deus quiser futuro presidente dos Estados Unidos) é Queniano e isso faz de Obama praticamente um herói para o povo desse País. Encontramos vários estabelecimentos vendendo a foto dele enquadrada.

– A forma de alimentação das girafas é o desrame. Elas adoram se alimentar das folhas de árvores repletas de espinhos. Com focinho estreito, lábio superior grosso e flexível, ajudado por sua língua comprida e preênsil com até 45 centímetros, permitem-lhes chegar às folhas mais nutritivas, não se machucando com os espinhos das árvores. Mas, antes de pesquisar sobre isso, estávamos achando que ela comia os espinhos, pois foi isso que o guia “desinformado” nos explicou. Disse que era possível, pois a língua da girafa é super grossa e, sendo assim, não era perfurada. Por isso, atenção: GUIAS TAMBÉM MENTEM (e muito).

– a tampa da garrafa de vidro da coca-cola de lá é amarela e pode vir premiada, por isso fique esperto, pois os garçons geralmente abrem pra você e levam a tampinha. Pega ele! (((-:

– você sabia que existe “galinha das montanhas”???? É até mais bonitinha… (((-: Na panela deve ficar melhor ainda! (((-:

– o avestruz não pode ser desprezado, pois é a maior ave do planeta e com um ovo de avestruz é possível fazer um delicioso omelete suficiente para até 25 pessoas. Acho que cada ovo de avestruz botado, corresponde a dor de um parto humano. Imagina! (((-:

– meninos e meninas frequentam escolas separadas e todos usam uniforme.

– semelhante ao que ocorre no nordeste brasileiro, o único animal utilizado para puxar carroça ou carregar algo no Quênia é o burro. O que aliás me faz refletir sobre a injustiça de usar o nome desse animal de forma pejorativa. Tem que ser muito forte e resitente para sobreviver em lugares tão secos e inférteis. Ser burro deveria ser elogio, não acham? 

– você dificilmente verá uma mulher com criança de colo utilizando carrinho de bebê, pois é costume elas prenderem o bebê ao corpo com um pano amarrado. Aliás, essa prática virou moda em alguns países europeus. Eu acho o máximo, mas ao mesmo tempo fico pensando se a forma como as crianças ficam não prejudica na formação das perninhas, isto é, se quando crescerem não vão ficar com aquelas pernas tipo “alicate”. Será!?

– muitos lugares pertos de vilas são protegidos contra elefantes. São colocados fios entre os postes de distribuição de energia elétrica que podem dar um choquinho “chega pra lá” nos bichinhos. Os elesfantes são lindos, mas quando acessam as plantações causam um prejuízo inestimável.

– já viram macaco de saco azul???? Urgh! Pois é, eles existem e parecem não se incomodar com esse órgão medonho. (((-:

– já que o assunto é macaco, olha esse aqui! O danado aproveitou a janela do carro aberta e roubou o almoço do moço. Olha a cara de sapeca! Sério! A expressão deles quando estão fazendo arte é exatamente de quem sabe o que está fazendo. E ainda há quem diga que bicho não pensa! Afff… Vai acreditando… Subestimar um macaco, pode lhe custar seu almoço! (((-:

– em todos os hotéis que ficamos hospedados existiam pendurados sobre as camas os famosos mosquiteiros. Parece ser um movimento do governo para reduzir casos de doenças transmitidas por insetos. Em pensar que eu sempre relacionei essas redes sobre a cama com cama de princesa. (((-: Sonho meu.

– todo estabelecimento tem a foto do presidente atual e isso é lei. Além disso, paree que cada novo presidente coloca sua carinha nas moedas. É ou não é o cúmulo da vaidade e do desperdício num país tão miserável! )))-:

– chegando no Quênia descobri exatamente porque muitos de nós temos cabelos mais permeáveis que o povo africano (excluindo aqui os descendentes afro-brasileiros). Por quê!? Porque o meu cabelo nunca ficou tão oleoso em tão pouco tempo como no Quênia. Deus é perfeito. Acreditem. TUDO tem um por quê. (((-:

– o Quênia também tem “galinhas da angola”, mas com duas diferenças: ela tem o papo azul que nem o saco do macaquinho, e também deve ser mais forte que a galinha da angola que vive no Brasil, pois ela não fica resmungando sem parar que tá fraca. (((-:

– estranhamente sempre que pedimos banana nos restaurantes ou bares eles nos serviam no prato, acompanhada de faca e garfo e ainda cortavam as pontas. Vai entender. 

– uma das cervejas locais mais consumidas é a “Tusker”, que tem um elefante no rótulo. O sabor nos lembra muito as cervejas brasileiras, mas a história do nome da cerveja é bem peculiar. “Tusker” era o nome do elefante que matou um dos criadores da cerveja! Uma homenagem bem curiosa, não acham!?

– foi a primeira vez que vimos ovo albino, ou seja, um ovo com a gema branca. (((-:

– vocês sabiam que a girafa é o animal que possui o maior coração do reino animal. Dá pra imaginar quando você olha pro tamanho do pescoço da bicha. Haja pressão pra mandar sangue pro cérebro, que fica láááá em cima!

– todas as vezes que presenciamos alguém limpando algum lugar era utilizando aquelas vassouras de bruxa, mas com um cabo de apenas uns 50cm. Mas, pior que isso foi observar que, aparentemente, nunca usam rodo, mas sim pegam um balde com água e um pano e, sem ajoelhar ou sequer flexionar os joelhos, passam o pano no chão com as mãos. Haja costas! Depois de 5 minutos nessa posição eu juro que não conseguiria mais levantar. (((-: Trintão, né.

– o que você vai perceber estando principalmente em Nairobi é o número absurdo de indianos circulando em carrões por lá. Os indianos foram convocados há algum tempo atrás para ajudar na construção da linha de trem para Uganda, mas, após finalizada a obra, o governo queniano incentivou essas famílias a continuarem no Quênia na área comercial. Hoje existem talvez centenas de estabelecimentos cujo dono é um indiano. No centro de Nairóbi ficamos perplexos com uma avenida onde, dentro de todas as lojas, tinha um indiano comandando. Bom pra eles, ruim para o povo local.

– foi revoltante ir ao mercado e perceber que quase todos produtos industrializados são importados da europa. Produtos básicos como sabonete e pasta de dente, por exemplo, são produzidos na Alemanha. É triste, pois o governo poderia investir em criar ao menos indústrias para os produtos básicos e que geram menos subprodutos poluentes. Isso geraria riqueza interna e trabalho, além de orgulho nacional. É possível, mas talvez por questões políticas não seja viável. Como sempre. 

– além dos produtos importados, também vimos mão de obra importada. Adivinha de onde???? China. Lógico. No caminho para Namanga atravessamos uma rodovia que está em obras e, no canteiro de obras, observamos chineses aparentemente gerenciando a obra. Além disso, quando estávamos no aeroporto de Nairobi para ir embora, chegou um voo cheio de chineses operários. Isso, pra variar, me revoltou, pois num país com tanto desemprego deveria ser proibido a contratação de mão-de-obra nao especializada do exterior. Nessas horas, apesar de me prejudicar, aprovo o sistema alemão que dá sempre prioridade para alemães.

DICAS E CUIDADOS

– a primeira e mais importante dica é: SEMPRE DIGA QUE É BRASILEIRO! Isso vai te render vários descontos e tratamento VIP. Quenianos adoram o Brasil, pois são vidrados em futebol e veem que nossos jogadores são, na sua maioria, descendentes de africanos. Querendo ou não, isso nos faz mais próximos e é por isso que eles nos tratam com carinho na maioria das vezes. Aproveite e diga que também conhece alguns maratonistas quenianos que já venceram maratonas no Brasil. Vai ver que ser brasileiro pode sim ser lucrativo! (((-:

– NUNCA contrate passeios com agentes que te perseguem nas ruas. Selecione uma agência e vá até o escritório dos caras.

– Ande atento com suas coisas e procure sair sempre com uma roupa discreta. Apesar de que se você for branco, será notado de qualquer jeito. Quem mandou ser branco, ué! (((-: Um dia isso ia se tornar uma desvantagem, certo!? (((-:

– Não esqueça de levar seu cartão de crédito para possíveis emergências.

– Tome todas vacinas apropriadas que puder, principalmente aquela contra febre amarela. Para entrar no Quênia ela não é obrigatória se você partir de regiões não tropicias, mas extremamente recomendável em todos os casos.

– Tenha sempre papel higiênico ou coisa que o valha com você e, se puder, não esqueça os lencinhos umidecidos pra fazer o serviço completo. (((-:

– compre, se achar, protetores pra colocar na privada pra sentar. É o máximo!!!! (((-: Foi o que me salvou na hora do aperto. (((-:

– Protetor solar e chapéu são itens indispensáveis. Óculos de Sol é bom, mas se tiver chapéu ou boné com abas já basta.

– Se for subir em regiões de altas altitudes não esqueça todos apetrechos contra frio congelante e alguns medicamentos básicos são sempre bem-vindos em qualquer situação. Além de tomar MUITA água.

FONTES DE INFORMACAO

– East Africa (Lonely Planet): um livro ótimo para te ajudar a planejar a viagem. Mas atenção: cheque algumas informaçoes como preços e números de telefones, pois nos deparamos com vários dados desatualizados. 

– Kenya Wildlife Service (tabela de preços para entrar nos parques nacionais):  http://www.kws.org/tariffs-2006.html

– Site australiano atualizado periodicamente sobre segurança nos países de destino turístico:   http://www.smartraveller.gov.au/

– Site oficial de turismo no Quênia: http://www.magicalkenya.com/

– Apoio a brasileiros no exterior: http://gestao.abe.serpro.gov.br/