SENTIMENTOS – Voltando a me sentir EU

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Quando cheguei na Alemanha passei por algumas dificuldades relacionadas à minha já insana psique. Uma delas foi o sentimento de ter “me abandonado” conscientemente por um período (no meu caso) pré-determinado. Tá. Eu sei. Escrevi de uma forma dramática, mas é dramático pra quem vive isso.

Sempre fui orgulhosa e fui educada pra conquistar minhas coisas através do meu próprio esforco e, de preferência, ter meu próprio dinheiro para ao menos nao precisar depender de ninguém num momento mais difícil que pudesse acontecer. Cresci ouvindo isso e esse ensinamento fez um pouco do que e de como eu sou. De repente (e foi de repente mesmo) Deus me colocou de frente com uma escolha muito difícil pra alguém que tinha a independência financeira como algo tao valioso e que também tinha orgulho de dizer que tinha se formado no nível universitário (mesmo pagando muito e demorando muito pra isso…hehehe), que tinha orgulho de ter comprado o próprio carro (saudades do Chicao! Sim, ele era vermelho..hehehe) mesmo pagando por 2 anos parcelas incompatíveis com o dinheiro que eu tinha disponível, que tinha o próprio emprego e que tinha orgulho (como as pessoas mais antigas) de ter ficado tanto tempo na mesma empresa. Eu era EU de verdade. Era eu quem fazia acontecer. Era eu que pagava pra acontecer (tá, o banco também pagou pra mim por um bom tempo e sem minha mae eu nao tinha dado a entrada da minha ferrari…hahaha). Eu era a dona das minhas dívidas. Eu é que escolhia quando e onde gastar, sem precisar me preocupar com nada (só com o SPC). Eu era a “dona do meu nariz”.

Que escolha foi essa? Vir pra Alemanha, acompanhando meu marido. Nao decidi SÓ por ele. Aliás, me desculpem as românticas de plantao, mas isso nao existe. Eu decidi por ele, por mim e por nós. Caso contrário nao funciona. Mas a oportunidade oficial foi dada à ele e ele (que “paxono ni mim”) estendeu a oportunidade dele à mim. Quando ele me chamou eu nao pensei muito no que viria, simplesmente aceitei. Ele me alertou muito sobre as possíveis complicacoes e consequências, mas eu, eu nao queria ouvir, pois senao acho que eu teria desistido. Chegando aqui ele foi trabalhar e eu voltei pra “escolinha” com quase 30 anos! Fiquei feliz por ver ele se realizando, mas chorei muito me perguntando: “E eu? Quando vai chegar minha vez? Será que vou conseguir me realizar de alguma forma durante esse período na Alemanha?”. Fiquei alucinada e pesquisei incansavelmente todos os dias algum curso de pós pra fazer, trabalho solidário ou o que quer que fosse. Eu nao queria ficar “apenas” indo pra aula de alemao todo santo dia e sendo tratada como uma adolescente pelas professoras. Eu nao estava naquele “time” (tempo em inglês), mas tive que entrar nele à força. Fiz o curso durante um ano e só Deus e o Rô sabem o que passei e o que estudei pra chegar até o fim em um ano, sem repetir nenhum módulo e sem desistir como muitos fizeram. Depois fui pra Malta e estudei um mês inglês, pra desenferrujar e desencantar o bichinho. Voltei e foi ai que a coisa comecou a piorar, pois eu nao tinha mais que ir pra escola. Decidi comecar a produzir bijouterias pra tentar me ocupar e ganhar um dinheirinho e, além disso, me dediquei à fazer o scrapbook pra minha sobrinha linda. Eu nao tinha mais nada pra fazer a nao ser procurar uma pós e me preparar pra isso. Estudei bastante alemao, pra conseguir uma nota supimpa no teste de proficiência em alemao. Consegui. Depois uma amiga me indicou uma pós e eu pirei. Foquei nisso. Enviei os documentos, me chamaram para uma entrevista e logo depois recebi a confirmacao da vaga.

E agora? AGORA EU SOU EU DE NOVO. E sabe quando eu tive a certeza de que esse sentimento de “auto-realizacao” e de “auto-estima” tinham voltado a fazer parte de mim? Logo quando comecei a ir para a Universidade. Um dia eu estava indo pra Uni e quando cheguei no ponto pra pegar o metrô, tinha um cara parado na frente da máquina onde a gente compra ticket e eu parei atrás dele porque eu precisava comprar também. Ele me pediu pra passar na frente dele e logo em seguida me perguntou com um alemao típico de estrangeiro como ele fazia pra comprar o ticket até o aeroporto. Ensinei pra ele e depois comecamos a conversar, quando eu perguntei pra ele de onde ele vinha (curiooooooooosa…). Ele era do marrocos e só ia ficar um tempo em Stuttgart, pois mora na Alemanha, mas em outra cidade. Ai ele me perguntou de onde eu vinha e (lógico) ficou impressionado que eu vinha do Brasil (nao entendo porque todo mundo fica impressionado quando eu falo de onde eu sou… acho q eles já devem imaginar eu pulando de galho em galho que nem macaco pra chegar em casa…sei lá…). Mas a pergunta que fez eu quase abracar o cara foi: “Você está estudando na Alemanha?”. Eu: “SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMM!”

Nao, vocês nao tem noçao a alegria que eu fiquei de nao ter que dizer que nao. Que eu estava aqui “apenas” acompanhando meu marido e que nao estava nem estudando e nem trabalhando ou que estava “apenas” estudando alemao. É um sentimento delicioso! Foi ali que percebi que eu retomei o MEU caminho independente e isso, isso nao tem preco pra quem é como eu. Foi o sentimento mais extremo e delicioso que provei nos últimos tempos, sabia? Em nenhum momento eu precisei citar o motivo que me trouxe aqui, pois ele nao é mais importante, ele é passado, ele é algo que foi superado. Eu ter vindo porque meu marido recebeu um convite é, agora, apenas um detalhe e o mais importante é o que eu fiz com essa oportunidade. Nao sou mais SÓ uma acompanhante, agora eu SOU EU e fiz meu caminho. Eu AMO o Rô e ele sabe disso melhor do que ninguém, sou grata à ele por TUDO que ele fez e tem feito por mim, mas eu sou um indivíduo e por isso preciso ter meu caminho paralelo ao dele. Eu acredito em: EU, VOCÊ e NÓS. Nao existe pra mim: “VOCÊ e NÓS”. Eu sou EU e eu quero continuar sendo EU, dentro de NÓS. (((-:

Se você também está vivendo uma situacao parecida agora, tenha paciência e procure sempre projetar seu futuro olhando pra dentro. Você sabe SIM o que quer e também saberá como conseguir. O mais importante é nao desistir em hipótese alguma de você, pois um casal realizado e feliz nao é um casal onde um apoia o outro, mas sim um casal que se apoia mutuamente e se realiza individualmente. Pense nisso e SEJA VOCÊ!

FESTA – 2 Anos de Alemanha!

Dia 26 de marco completaram 2 anos que estou morando em Estugarda (Stuttgart) na Alemanha. Pra vocês verem como minha vida aqui melhorou é só prestar atencao que eu só fui lembrar disso hoje. (((-:

Pra quem quer seguir a evolucao da “coisa”, leia primeiro meu post sobre o primeiro mês e o sobre o primeiro ano. Já leu? Entao siga em frente. Vamos lá.

Depois de 2 anos por aqui e dois invernos alemaes eu posso dizer: eu sou mais uma sobrevivente! hahaha

Apanhei muito por aqui, mas também conquistei muitas coisas e coisas preciosas como maturidade e conhecimento. Nunca foi fácil, mas pelo menos nunca foi monótono. Cada dia uma descoberta sobre o que está a minha volta e, principalmente, sobre o que está dentro de mim.

Mudar de país é muito mais do que atravessar fronteiras geográficas ou culturais. E mudar do Brasil para a Alemanha é um desafio que exige muito de quem toma essa decisao, pois a língua é difícil e muito diferente e a cultura é quase, pode-se dizer, avessa à nossa.

Quando cheguei só via pontos negativos e ainda vejo muitos, mas hoje o que mudou foi a forma como interpreto o que vejo. Hoje tenho consciência de que nao existe melhor ou pior, mas sim diferente. Nós temos a mania de sempre classificar algo como certo ou errado ou como melhor ou pior e, na verdade, morando fora do seu país você descobre explicitamente e continuamente que é errado fazer esse tipo de classificacao. Por que? Porque o certo, o errado, o melhor e o pior dependem de pontos de referência e o meu é bem diferente do de muitas pessoas e vice-versa. Mas, desculpem, eu continuo fazendo essas afirmacoes sem pensar, mesmo sabendo que nao há sentido em fazê-las. (((-:

Por exemplo, conheci aqui na Alemanha muitos brasileiros que AMAM a Alemanha e outros que depois que vieram pra cá AMAM muito mais o Brasil. Eu faco parte do segundo grupo, mas HOJE aprendi a respeitar o primeiro grupo, pois entendi que nossos valores do que é melhor ou pior sao diferentes. A maioria dos que querem ficar aqui é por causa da seguranca, mas pra mim seguranca nao é o mais importante na vida, mas sim as pessoas e as pessoas que eu mais amo estao no Brasil e é por isso que quero voltar. O que mais amo é a alegria do nosso povo e essa eu ainda nao encontrei de verdade aqui. No Brasil parece que até o ar é mais feliz. (((-: Pra mim.

Vim pra cá numa situacao privilegiada, mas difícil apesar dos privilégios. Adquiri durante esses dois anos muitos problemas com minha auto-estima, mas resolvi outros também. Me tornei mais dura, mas sem perder a ternura e a alegria. Desisti ou estou desistindo de insistir em ser aceita ou de ser querida, pois aqui sinto que as pessoas nao tem essa necessidade e consequentemente elas subentenden que ninguém tem, ou seja, ninguém vai alimentar ou suprir suas carências. Você tem que ser tornar autosuficiente (ou pelo menos agir como). Além disso, estou tendo que lidar com uma situacao nova agora na Uni, pois por causa da dificuldade com a língua, me sinto muitas vezes burra. Sei que isso nao é verdade, mas é difícil lembrar do que é verdade quando você vive isso. Esse sentimento é novo, mas nao forte suficiente pra me derrubar, acreditem. Esse é mais um dos desafios e é mais um que eu estou vencendo dia após dia. Nao é fácil, mas também nao é impossível e é por isso que eu vou conseguir.

Fiz muitos amigos, mas a maioria estrangeiros. Também tenho alguns colegas alemaes que eu simplesmente amo, mas nao me sinto tao bem com eles quanto me sinto com os outros estrangeiros. Talvez porque os estrangeiros e eu somos de um mesmo grupo dentro da Alemanha e nos entendemos bem, o que possibilita que nós nos ajudemos mutuamente a superar todas as dificuldades que estrangeiros enfrentam em um país novo. Nao me obrigo a fazer amizade com alemaes, eu simplesmente estou receptiva a isto, mas nao imploro pra ser amiga deles, pois isso nao me faria bem. Sei que por causa da língua seria ótimo, mas nao quero ter pagar com minha auto-estima esse preco. Se quiserem ser meus amigos, que venham. Agora na Uni comecaram a surgir alguns, mas a comunicacao ainda é difícil e sinto que eles cansam de ter que conversar comigo, pois peco pra repetirem várias vezes e acho que isso trava a conversa. Entendo eles, mas essas situacoes me fazem mal. Enfim.

Medo de entrar em depressao foi sempre constante na minha cabeca desde que cheguei aqui. Ela chegou a bater na porta, mas EU nunca permiti que ela se alojasse na minha mente ou na minha vida. Sempre que ela chegava perto, eu dava mais alguns passos e afastava ela de mim utilizando apenas meu livre-arbítrio, ou seja, minha vontade de vencer é o que afasta a depressao de mim. Ela, assim como meus medos, me move pra frente. Cheguei com um propósito e vim decidida a alcancá-lo. Criei metas todos os dias desde que cheguei e continuo criando. Mudei muitas, mas nao deixei de ter uma e é isso que me ajudou a seguir em frente.

Olhando pra trás me vejo tropecando, chorando, perdida e com medo. Olhando hoje vejo muitas conquistas e uma mulher muito melhor do que aquela que aqui chegou. Continuo com medos, continuo tropecando, chorando, mas pelo menos agora eu tenho onde me agarrar, ou seja, eu tenho esse sentimento de superacao. Superei muitas dificuldades e ultrapassei muitas barreiras pra ter alcancado tudo que alcancei até hoje aqui e esse sentimento é um dos melhores que já senti. E quando tudo parece desabar eu me agarro no que eu construi e sigo em frente com a certeza de que minha obra ainda nao acabou e que há muito pra ser feito e que só EU posso fazer. Olhando para o futuro me vejo com um sentimento imenso e indiscretível de auto-realizacao e de superacao. Vejo uma mulher que se permitiu viver e sofrer e que nao se permitiu jamais parar, desistir ou se subestimar. Vejo uma mulher segura de si e certa de sua capacidade, uma mulher que se conhece melhor do que ninguém. Uma mulher que abriu mao de muita coisa por amor, mas que justamente por isso nunca esteve sozinha nas suas conquistas, ou seja, seu amor sempre esteve junto dessa mulher e foi ele quem a impulsionou. Sim. Estou falando do meu marido. (((-:

Agora depois dessa auto-biografia direta e resumida, segue uma listinha do que eu gosto e do que eu nao gosto na Alemanha após dois anos vivendo aqui:

1) Transporte público: tirando o fato de ficar presa dentro do ônibus entalado na rua e de ser ignorada na porta, eu AMO o transporte público alemao. Normalmente aqui em Estugarda tudo é muito pontual, o que te possibilita realmente planejar algo antes de sair de casa online. Além disso, dificilmente há problemas com ônibus quebrado ou coisa assim e sao sempre muito limpos. Só há uma coisa ruim nos transportes públicos aqui: os alemaes que nao trocam de roupa durante um mês e fedem que nem gambá. Isso me tira o prazer de andar de ônibus aqui. Afff…

2) Comida: aqui o forte é carne de porco e batata e variacoes dentro disso e eu, sinceramente, nao gosto. Salsicha é outra mania nacional que também nao me agrada muito. Ah! Mas tem duas coisas na culinária alema que eu amo: tortas (Apfelstrudel…hummm) e saladas. Tem cada salada dos deuses!!!

3) Pontualidade: AMO! Aqui isso realmente funciona e é uma das coisas que vao me dar gastrite no Brasil. Já tô preparada. Sério! Eu nunca fui muito pontual no Brasil, mas hoje vivendo nesse sistema pontual, percebo o quanto é falta de respeito você atrasar mais de 10 minutos sem um motivo muito bem fundamentado. Hoje em dia eu sou super pontual, mas sei que no Brasil e, principalmente, em cidades grandes essa pontualidade é mais difícil, afinal no caminho para um compromisso tudo pode acontecer (enchente, transito, acidente e etc). Já aqui com uma populacao bem menor e bem menos problemas gerados pelo caos das grandes cidades fica mais difícil manter esse sistema de pontualidade. É… coisa pra se pensar.

4) Objetividade: AMO! Aqui estou aprendendo (aleluia!) a ser direta e reta. O alemao é um cara, normalmente, que nao fica dando voltas pra dar o recado. Ele dá e pronto. Eu amo isso! No Brasil é uma embassacao só pra alguém te pedir algo, pra se chegar a uma conclusao em uma reuniao na empresa e etc. Eu sempre odiei isso na nossa cultura. É, vou sofrer pra me readaptar com isso também.

5) Perfeicao: AMO! O alemao, em geral, procura fazer tudo o mais próximo da perfeicao possível. Por exemplo, eles demoram pra subir um prédio, mas quando terminam vai demorar anos pra ter algum problema na estrutura ou coisa assim, pois fazem tudo muito bem planejado e dentro de trilhoes de normas padronizadas e oficiais.

6) Planejamento: gosto médio. Acho legal a gente sempre estabelecer planos e nos organizar para seguí-los, mas acho que a alemaozada exagera. Me parece que eles nao funcionam sem planejar as coisas muito antes delas acontecerem. É meio inflexível e as coisas acabam acontecendo sem muita espontaneidade. Aqui nao é muito normal te dar na louca de passar na casa de alguém sem avisar, ou seja, o normal é uma semana antes já planejar. Eu acho que isso trava um pouco as coisas, mas é pessoal. Eu prefiro reservar um espaco para os “improvisos” ou para as “surpresas”. E o pior é que você acaba entrando no sistema e ai quando eu voltar pro Brasil vai ficar todo mundo me chamando de alema, só por que eu marco festas pra daqui um mês, um mês antes. (((-:

7) Humor: ria se puder. O humor deles é bem diferente do nosso e, na maioria das vezes, eu nao acho a menor graca. Antes eu achava que era porque eu nao entendia o alemao, mas agora eu entendo o que disseram, mas mesmo assim continuo achando sem graca. E quando eu conto alguma coisa engracada, dependendo, eles também nao acham a menor graca, ou seja, cultura é cultura.

8) Frieza: sim, eu acho a maioria dos alemaes gélidos quando comparo com os brasucas em geral. A comecar por essa mania de dar a mao. Eu odeio isso! Nunca me esqueco no meu curso de alemao o dia que abracei minha professora. A mulher ficou roxa de vergonha ou sei lá o que. Depois minhas colegas me disseram que aqui eles nao tem o costume de abracar quem eles nao conhecem muito bem e eu nao quis nem saber, continuo abracando quem me dá vontade até hoje e até agora tem funcionado bem. É lógico que tem algumas áreas específicas onde eles sao mais carinhosos e tal, afinal é trabalho deles darem conforto e atencao, mas no geral nao espere muito carinho nao. Existem sim alemaes mais “latinizados”, mas dá pra contar nos dedos. (((-:

9) Arrogância: eu acho muitos alemaes e europeus em geral muito arrogantes, mas isso parece que é cultural e eu decidi simplesmente ignorar esse fato. Acho que eles cresceram ouvindo que sao os melhores do mundo e ainda acreditam nisso, mesmo vendo a China passar eles no ranking de maiores economias mundiais. Na minha aula no MBA o prof. NUNCA cita a China, adivinha por que? (((-:

10) Estacoes do ano: tem seu lado legal e seu lado infernal. O lado legal é que sao estacoes muito bem definidas, onde é possível (diferentemente do Brasil) observar claramente os ciclos existentes: folhas nascem, crescem, comecam a ficar amarelas e caem. É lindo ver essas transformacoes. Maaaaaaaaaaaassss tem um lado terrível que é a curta duracao de períodos quentes e agradáveis, ou seja, a maior parte do ano passamos frio e temos menos luz durante o dia. Mais um motivo pra levar qualquer um entrar em depressao.

11) Enfeites nas casas: eu acho lindooooo!!!! Aqui é super comum que as casas sejam enfeitadas para diferentes datas festivas. Eu acho o máximo, pois adoro enfeitar as coisas. Mas tuuuudo nessa vida tem um motivo. Segundo minha colega indiana, os alemaes enfeitam as casas porque afinal de contas é onde eles passam a maior parte do tempo devido ao tempo feio: dentro de casa. Que isso faz sentido, faz mesmo. (((-:

12) Língua alema: quando eu cheguei eu odiava a língua alema com todas as minhas forcas, mas agora eu até gosto um bucadinho. Sério! Acho que conforme você vai aprendendo mais, a língua vai se tornando menos “estranha” e mais sonora. Além disso, a língua alema tem palavras super poéticas que eu amo. Por exemplo casamento é “Hochzeit”, que traduzindo ao pé da letra quer dizer “Tempos altos”. Nao é lindo? Hoje acho a língua mais bonita, mas continua sendo difícil e acho que isso eu nunca vou deixar de achar.

13) Aquecimento nas lojas: odeio! Na época de inverno ou de frio aqui (quase o ano todo…hahaha) é infernal entrar nas lojas pra fazer compras. Literalmente, pois você geralmente está todo encapotado de roupas e de repente entra num ambiente a sei lá… 40 graus e tem que sair tirando tudo desesperadamente. É horrível e exagerado.

14) Consciência ecológica: esse ponto até hoje eu ainda nao sei se eu gosto ou nao aqui na Alemanha, viu. A Alemanha é mundialmente famosa por suas acoes pró-ecologia, mas ao mesmo tempo vejo coisas aqui que vao contra essa “imagem”. E agora pra piorar meu professor do MBA (um alemao) disse que essa imagem é realmente falsa e que apenas 20% dos alemaes aprovam a coleta seletiva por exemplo. Pois é. E ainda já ouvi dizer por ai que eles nos obrigam a separar o lixo em casa (e pagamos pela coleta seletiva), mas no final tudo é despejado em um único lixao e lá tudo se mistura de novo.  Nao sei. Talvez daqui a dois anos eu crie uma opiniao final a esse respeito.

15) Autobahn: ÓTIMO! Eu nao dirijo aqui, pois pra isso teria que gastar uma granona e nao acho que vale a pena, considerando que só vou ficar por aqui mais um ano e meio, mas eu AMO a Autobahn. Além de você poder pisar no acelerador sem dó em muitos trechos, você chega super rápido e confortavelmente nos destinos. Pro carro entao é ótimo, pois é um verdadeiro tapete e você praticamente nao sente nenhuma trepidacao. Um sonho!

16) TV: gosto e nao gosto. Tem programas ótimos, principalmente os documentários que sao riquissímos. Mas tem programas que sao realmente estúpidos, feitos pra gente idiota mesmoooooooo! Eu nunca imaginei que iria ver programas tao imbecis na Alemanha, mas vivendo aqui você descobre que gente com mente vazia existe em qualquer lugar, logo existem sempre programas de TV pra esse nicho de mercado.

17) Regras: gosto e nao gosto. Eu acho sim que devemos ter que regras e que essas devem ser seguidas, mas acho que aqui tem regra demais e pra coisas que elas nao deveriam ser necessárias. Elas ingessam o sistema e nao acho isso saudável. No Brasil eu sei, já é o contrário, ou seja, elas existem, mas poucos cumprem e isso também nao é o ideal. Mas como nasci e cresci lá ainda prefiro assim. Acho que é por isso que somos tao criativos e flexíveis. (((-:

Bom, se eu for lembrando de mais alguma coisa eu vou adicionando com o tempo, mas agora é tudo que me vem à cabeca.

É isso. Sao dois anos de muitas emocoes e muitas experiências difíceis e outras muitas felizes. Sao dois anos que mais parecem 10, quando penso em tudo que vivi, em todas as pessoas que conheci, em todas as culturas com as quais tive contato e em todas as conquistas que alcancei. Parece pouco tempo, mas nao é pouco tempo pra quem o aproveitou ao máximo como eu. Se me perguntarem hoje se eu mesmo depois de tudo que passei aqui, se eu teria feito outra escolha eu respondo: NAO! Gracas a Deus eu escolhi vir pra cá é gracas à Ele que eu vou poder voltar pra casa com sentimento de dever cumprido e sempre que eu peso os prós e os contras eu encontro um saldo nao só positivo, como também lucrativo.

Nao vim para ficar, vim para crescer e depois voltar. Foi assim que planejei e é isso que vou fazer.

SENTIMENTOS – Fazendo amizades em outro país/lugar

Eu esperava escrever sobre isso só quando eu fosse embora da Alemanha para o Brasil, mas não aguentei depois que li um post da La falando sobre esse sentimento. Quando li o post dela chorei. E choro sempre que penso nas pessoas que um dia vou “deixar” pra trás aqui na Alemanha e na europa em geral.

E, além desse motivo, tem outro. Um dia fizemos um festao aqui em casa com quase toda brasileirada, um italiano e um alemao, e outro dia fizemos outra festa mas só com alemaes. Ver todo mundo junto já nos encheu de saudades de quando nao for mais assim. )))-:

É estranho, pois quando deixamos nossos amigos do Brasil dói muito. Dói demais. Mas não é só porque eles são brasileiros, mas sim porque são queridos. E então chegamos aqui e acontece o mesmo, tanto com brasileiros que conhecemos aqui, quanto com estrangeiros e alemães, pois eles também se tornam queridos e importantes nas nossas vidas. E, o mais importante, eles se tornam mais próximos do que aqueles que “deixamos” no Brasil. O que é normal geograficamente falando. (((-:

Quando cheguei fiz amizades com muitos estrangeiros, com os quais mantenho contato até hoje, nem que seja por email. Aprendi a admirar outras culturas e aprendi a descobrir o melhor das pessoas mais do que nunca, pois conseguir amigos estando fora do seu “mundo” é MUITO mais difícil. É difícil, pois as culturas são diferentes e você não sabe como “chegar”. Você fica com medo de ser mal compreendida, mal interpretada por causa da barreira da língua e com isso você, às vezes, fica cansada de tentar encontrar amigos. E muitos dos que você, num primeiro momento, julga potenciais amigos, se mostram com um pouco mais de tempo diferentes do que você gostaria e isso te deixa confusa e triste. Você percebe que não tem “tato” ainda e lidar com isso é difícil, pois no seu país você, normalmente e teoricamente, tem. Mas isso também acontece (pasmem) com brasileiros que conhecemos aqui, ou seja, somos frutos da mesma cultura, mas mesmo assim existem barreiras a serem ultrapassadas ou simplesmente aceitas.

No comeco eu era muito mais comedida, pois percebi que eu precisava dar espaco para as pessoas “se mostrarem” e ai sim eu poderia identificar potenciais amigos. Mas muitos dos que vieram, sumiram mais tarde. Cada um foi cuidar da sua própria vida e nunca mais nos falamos. Outros ficaram, mas nosso contato se tornou mais superficial. Não sei. É estranho explicar. Às vezes falta assunto, talvez por não termos uma história juntos, tanto na nossa vida pessoal aqui, quanto na nossa vida como um todo. É estranho, mas é também normal. Acho que quando somos mais novos, somos mais “flexíveis” e “abertos” para novas amizades e ai conforme vamos ficando mais velhos, vamos ficando mais criteriosos e exigentes (pra nao dizer chatos e enjoados pra caramba!). Me vejo pisando em ovos quando converso com pessoas assim e isso me dá um sentimento de “perda de identidade”. Não sou eu. Eu ODEIO ter que ficar pisando em ovos pra falar com pessoas próximas a mim. Odeio! Tá, sou meio alemã nisso mesmo. Admito 100%.

Gosto de olho no olho, gosto da verdade, gosto de discutir com gente que tem opinião própria e não opinioes que se ajustam, gosto de brigar com quem amo se for preciso, gosto de abracar quem amo a hora que dá vontade, gosto de pessoas que me digam a verdade mesmo sabendo que num primeiro momento eu vou fechar a cara, mas que depois eu vou amar essa pessoa mais ainda por ela ter sido verdadeira comigo. E esse tipo de pessoas são raras. As pessoas normalmente se escondem no comeco e isso me dá a sensacão de estar sendo enganada. As pessoas fazem de tudo pra agradar e não é só por educacão, mas por falsidade mesmo. Todo mundo que chega em outro país, chega e fica carente. Precisa de amigos, custe o que custar, inclusive sua própria identidade. Isso é triste e são dessas pessoas que quero distância sempre. Aqui ou lá.

Mas o mais engracado é que fiz pouquissímas amizades com brasileiros no comeco e não foi porque evitei. Simplesmente eles não apareceram ou não se fixaram na minha vida naquela época. Os primeiros que conheci foram a Letícia e o Rogério. Uns amores, mas a amizade demorou a crescer e a se concretizar. Tanto porque somos diferentes em muitos aspectos, quanto porque, acredito eu, cheguei aqui meio desconfiada de brasileiros (e motivos não nos faltam) e tomei uma postura de pisar com cuidado. Hoje tenho menos contato com o Rogério, que voltou para o Brasil e de vez em quando manda um email contando as novidades, mas a Lê está cada dia mais presente na minha vida. E ela foi a primeira “vítima” da minha postura de “abrir a guarda”, pois ela é muito diferente das amigas que eu tinha feito na minha vida toda até então. Temos muitas diferencas em nossas opinioes e modo de vida, mas descobri nela uma bondade tão intensa e uma vontade de querer nos ver bem tão sincera que não resisti, adotei ela como uma daquelas amigas que a gente não quer mais perder. E ai depois dela vieram outras pessoas maravilhosas que conheci justamente através dela: a Mi e a Paty.

Depois disso comecaram a surgir e estao surgindo novas amizades com mulheres brasileiras que conheci através desse blog. A Lá e a Lu (aliás, estou ficando louca com tanto “L”).  Pessoas MUITO especiais com as quais mantive contato por um bom tempo virtualmente e que hoje chegaram pra ficar na minha realidade. Nos ajudamos muito: eu ajudei elas antes de chegarem na Alemanha e agora e elas me ajudaram a ter mais um motivo pra ficar mais um bucadinho. Além delas, conheci também através da “Blogosfera” a Sandra (vive já há 15 anos na Alemanha), uma mineira que me ajudou muito nos meus passos iniciais para conseguir uma vaga no MBA e que sempre dá uma passadinha por aqui pra corrigir as coisas erradas que escrevo e também pra complementar de forma enriquecedora vários posts mais “profundos”. E como se nao bastasse ainda conheci mais uma brasuca de tabela: Monica. Essa está em fase de análise curricular, mas demonstra até agora um potencial incrível. (((-:

E, é lógico, que a empresa onde o Rô trabalha também fez a sua parte, trazendo o Silas, a Glau e a Débora pra ficar pertinho da gente nos fazendo rir muuuuuuuuuuuito! Tem também os cachos, mais conhecidos como maridos ou namoridos. Os que conheci até agora, nem preciso dizer o quanto sao importantes na nossa vida, né!? Sao eles: Augusto, Hugo, André, Marcos, Sudário, Fabrizio e Léo.

E o mais engracado é que só depois que eu terminei meu curso de alemao, é que comecaram a chover brasileiros maravilhosos na minha horta. Chega a ser assustador, no entanto que até  já conversei com o Rô que talvez vamos precisar alugar uma casa maior pra caber todo mundo. (((-:

Mas, como se nao bastasse, tem minhas amigas estrangeiras que AMO e que dói quando penso que um dia vamos estar loooooooooonge pra daná. Um dia eu e mais 3 desabamos na choradeira só de pensar nesse dia, pois chegamos nesse barco chamado “Alemanha” juntas e vivemos bons e maus bocados juntas também. Já sao 2 anos que vivemos (e sobrevivemos) a essa situacao e tenho certeza que sem elas tudo teria sido mais difícil.

Agora imagina a hora que chegar a hora de ir embora ou de ver indo embora. Nao gosto nem de pensar. Vivemos e estamos vivendo tantos momentos mágicos juntos. Estamos nos aquecendo literalmente nas épocas gélidas de outono e inverno. Estamos nos ajudando na adaptacao e aceitacao da cultura local. Estamos também xingando juntos tudo aquilo que agride a nossa cultura, nossos valores e nossa inteligência por aqui. Estamos dividindo gestacoes e nascimentos. Casamentos e crises amorosas. É tanta coisa e numa situacao tao ímpar. Nao há como esquecer essas pessoas. Mas vamos ter que aceitar novamente a distância. Nao tem jeito.

Por isso meu maior esforco tem sido aceitar as pessoas como elas sao e aproveitar o máximo tudo de bom que elas tem e aprender ao máximo sobre tudo que elas podem me ensinar. Em muitas identifico meu sonhos e em outras identifico meus defeitos que me incomodam. Entao pego esses dois lados e uso na minha vida, ou seja, realizo meus sonhos e corrijo os meus defeitos me baseando nos meus sentimentos em relacao às características dessas pessoas. Nada e nem ninguém “acontece” por um acaso na nossa vida. Disso eu sempre tive e tenho certeza.

Entao aproveitem sempre cada minuto próximos às pessoas com quem vocês se identificam, seja pelas qualidades, seja pelos defeitos. Viva. Discuta. Brigue. Abrace. Beije. Mas nao desista das pessoas, principalmente quando elas forem difíceis, pois sao essas as mais preciosas na sua vida. (sim! eu sou uma jóia vendo por esse ângulo! hahaha)

Seja sincero e tolerante, pois assim nunca lhe faltará amigos de verdade seja onde for.