MESTRADO – O primeiro mês e (já) a primeira prova

Quando escrevi sobre a primeira semana de mestrado tudo estava colorido e feliz, mas após a primeira semana a coisa comecou a ficar um pouco “cinza” pro meu lado. E agora? Agora tá tudo colorido de novo, afinal tô de férias por duas semanas! (((-:

Pois é. Na primeira semana estava todo mundo simpático e disposto a ajudar e demonstrando nao ter nenhum problema com o fato de que meu alemao perto do deles é péssimo e também com o fato de eu nao ter nenhuma experiência na área de Marketing. Logo de cara, já me enturmei com um grupinho de pessoas bem bacanas e estrangeiras (exceto a garota do Laos, que nasceu e cresceu na Alemanha). E meu primeiro “probleminha” relacionado à adaptacao comecou justamente com essa garota. Ela é muito fofa, mas aos poucos foram aparecendo suas raízes na cultura alema e ela comecou a ficar estranha comigo. Me senti muito mal quando percebi que ela comecou a se afastar, pois me deu a nítida sensacao de que ela estava se afastando de mim, justamente por eu meio que “só atrapalhar”, ou seja, nao agrego nada para ela e nem para ninguém ali. A única coisa que tenho a oferecer é minha amizade e simpatia, mas nao me parece que é isso que eles buscam ali.

Percebi que ela comecou a se afastar e fiquei muito triste com isso. E de repente fui percebendo cochichos entre ela e outras meninas e também fui comecando a perceber cochichos em outras rodinhas que olhavam pra mim enquanto cochichavam. Me senti no ginásio de novo, ou seja, no meio de um monte de adolescentes imaturos. A diferenca é que eu nao sou mais adolescente e muito menos imatura. Percebi isso e me senti realmente mal, mas decidi após alguns dias de choro tocar a bola pra frente e agir como se eu realmente nao precisasse deles. Resultado: funcionou! De repente minha colega voltou ao normal e outras pessoas comecaram a tentar se aproximar também. Acho que perceberam que eu nao PRECISO deles e isso fez eles (talvez) ficarem curiosos ou me admirarem. Sei lá, só sei que minha ténica “alema” de indiferenca funcionou.

Outra coisa que fiquei muito decepcionada foi em perceber que muitos dos alemaes que estao no meu grupo sao falsos e eu achava que alemaes eram super sinceros. Por isso, cuidado quem ainda acredita nisso. Existem sim muitos alemaes que sao DIRETOS, mas nao necessariamente sinceros. É bom saber distinguir uma coisa da outra. E o que fazer sabendo disso? Entrar no jogo, pelo menos até o final de um período necessário.

Isso mesmo. Tudo nao passa de um jogo e se você nao encarar assim, vai demorar para sair dele e ainda vai sair sozinho e com uma péssima nota. Decidi entrar no jogo. Procuro ser o mais solicita possível (o que eu já sou por natureza) mesmo que tenha que receber patada ou que tenha que ser ignorada. Tento fazer a minha parte. Se vejo algo rolando na sala sobre provas ou projetos já me enfio no meio da rodinha e nao tô nem ai com as caras de “iiiiihhhh chegou a penetra!”. Uma coisa que ficou muito clara pra mim é que nao importa se você é meu amigo ou nao, se você nao tiver nada a oferecer de forma pratica em um trabalho/projeto, você está fora do meu grupo. Isso mesmo! É cruel, mas é assim que percebi que as coisas funcionam por aqui e acho que é por isso que minha colega do Laos comecou a tentar se afastar de mim, afinal na prática nao tenho muito a oferecer (isso é o que eles pensam…hahaha). Fiquei muito assustada ao perceber isso, pois lembro que no Brasil eu escolhia os integrantes de um grupo baseada na nossa amizade/coleguismo e nao no nível de QI de cada um ou coisa parecida. Cruel, mas aqui isso é realidade.

Quando tive certeza disso? No dia em que tivemos que montar grupos de estudo para a prova que fizemos na semana passada. Eu fui (pasmem) convidada por 2 grupos diferentes, mas tenho certeza que é só porque sou simpática e persistente, caso contrário eu ia ter que estudar com o livro e olhe lá. Mas percebi um monte de gente sendo excluida, ou melhor, nem convidada. Adivinha? Eu comecei a convidar todas essas pessoas para o nosso grupinho e foi ótimo. Nosso grupinho se reuniu no domingo pra estudar e eu cheguei apavorando, pois tinha já estudado horrores na sexta e sábado anteriores. Foi engracado, pois percebi que depois disso as pessoas comecaram a me dar mais crédito e comecaram a querer ouvir o que eu tinha pra dizer. Esse caminho até o reconhecimento custa caro (vááárias horas de estudo e muita cara de pau), mas vale a pena.

Além desse probleminha de ordem “pessoal”, tive um outro problema de ordem “intelectual”. Nas duas primeiras semanas durante as aulas a gente só tinha que ouvir e, na medida do possível, eu estava até que me saindo bem, ou seja, eu estava entendendo cada dia mais. Mas na terceira semana veio o choque, comumente chamado de “cálculo feito em sala de aula”. Nunca me senti tao burra na minha vida! Calma. Já me recuperei e sei que nao sou burra, mas no dia foi difícil nao me sentir assim. Tivemos que fazer um exercício de cálculo e quando eu li aquelas variáveis todas em alemao me deu um bloqueio assustador e eu simplesmente nao sabia nem por onde comecar e, o pior, eu já estudei isso na faculdade na matéria Enga. Econômica, mas nao vinha. E, pra piorar, as duas meninas do meu lado comecaram a debulhar nos cálculos e viram que eu nao estava fazendo nada, mas nem me perguntaram se eu queria ajuda, simplesmente comecaram a discutir sobre o que cada uma tinha feito comigo ali (a burrilda) no meio delas. Eu fui ficando pequena, minúscula, microscópica. Queria sumir dali! Saindo da aula fui no banheiro segurando o choro e quando voltei a Karuna (Laos) me perguntou onde eu estava, pois eles estavam me esperando pra almocar e eu tinha simplesmente sumido. Nao aguentei, desabei a chorar ali mesmo no meio do corredor. Ela me disse que eu nao era burra, mas sim quem pensa que eu sou. Além disso, mesmo me conhecendo apenas duas semanas, ela disse algo perfeito pra mim: “Você tem que parar de se cobrar tanto, pois a sua situacao aqui é muito mais difícil do que pra qualquer um de nós que já vivemos na Alemanha há muitos anos.”

Depois desse dia, decidi pegar leve comigo e realmente tentar me cobrar menos. Sei que no final-de-semana seguinte à esse fato estudei muito e tentei entender aqueles cálculos em português primeiro e depois ver a nomenclatura alema, pois sabendo o raciocínio nao há língua que te impeca de fazer uma conta. Deu certo!!! Deu tao certo que na última semana teve uma situacao com cálculo onde EUZINHA ensinei as meninas do meu lado!!! Aquilo foi a glória pra mim. Vocês nao fazem idéia da minha alegria. ((((-:

Bom, depois disso as coisas comecaram a ficar mais tranquilas. A única coisa que ainda me incomoda é esse “jogo”, pois apesar de ter aceitado jogar eu prefiria era nao ter que jogar. Me dói na alma aceitar certas coisas, mas se eu nao pensar que é só por 3 semestres posso colocar tudo a perder e isso eu nao quero. Vou ser forte e se Deus quiser vou descobrir que existem pessoas lá que também procuram amizades verdadeiras. Uma delas eu já encontrei: uma equatoriana chamada Raquel. Ela é show de bola! Mas acho que por termos um cultura muito próxima, foi muito fácil a gente se aproximar e se dar bem. Adoro conversar com ela e olha que conversamos em alemao mesmo! Além dela tem um chinês que também é o máximo. Ele é muito fofo!!!! Se todos (ou a maioria) dos chineses forem iguais a ele, só posso mesmo é torcer pra que a China se torne a próxima potência mundial!!! ((((-: Na boa, qualquer coisa é melhor do que os EUA pra mim. Sorry!

É, como vocês podem ver, primeiro vem as flores e depois os espinhos. Os espinhos ferem, mas as feridas logo cicatrizam e por último uma pele novinha aparece. Esse é o ciclo da vida e em um MBA na Alemanha nao é nada diferente.

E a primeira prova? Já é passado, agora é só esperar o resultado e assim que tiver esse escrevo um post aqui contando sobre esse primeiro desafio prático.

Cultura é o DNA de um povo – Único e perfeito pra CADA povo

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Decidi escrever sobre isso, pois estou CANSADA de discutir sobre isso com vários amigos/colegas daqui e daí. Sério. Não aguento mais discussões onde cada um se acha melhor que o outro.

Brasil é isso, Alemanha é aquilo, brasileiro é assim, alemanha é assada. Socooooooooooooooooorrroooo!

Se tem uma coisa que eu “venho aprendendo” por aqui é a respeitar as diferenças de forma madura e flexível, até porque eu MORO aqui e ficar tentando transformar a Alemanha em Brasil é simplesmente IMPOSSÍVEL. É impossível, pois temos histórias e trajetórias distintas. Absurdamente distintas.

A cultura de um país, seja ele qual for, é formada a partir da história do povo desse país. Não temos o direito de achar que porque eles são diferentes de nós, nós somos melhores ou piores ou vice-versa. Isso é ser bitolado. Isso é ser arrogante (se se achar muito melhor) ou ter problemas de auto-estima (se se achar muito pior).

A Alemanha tem sim MUITA coisa boa, com as quais poderíamos sim aprender. Mas o Brasil TAMBÉM tem MUITA coisa boa, com as quais os alemães também poderiam aprender. MAS a Alemanha também tem sim MUITA coisa que eu odeio e discordo, assim como o Brasil também tem MUITA coisa que eu odeio e discordo. MAS não posso resumir tantas diferenças em uma única afirmação, tal como: “O Brasil é MUITO melhor que a Alemanha” ou vice-versa. Isso é ridículo e simplista demais. 

Brasil e Alemanha são MUITO diferentes, mas muitos brasileiros e alemães são EXTREMAMENTE semelhantes em seus valores e opiniões ou EXTREMAMENTE divergentes. Mas como indivíduos e não como brasileiros ou alemães.

Repito o que já escrevi em um post anterior: “Não se julga um país pelo seu povo e seus costumes, mas sim pelas pessoas desse país que você realmente conhece.”

Dentro dessa afirmação eu posso dizer que conheci aqui na Alemanha muitos alemães bacanas, logo seria injusto eu julgar TODO o povo alemão como pessoas frias e individualistas, pois esses que conheci DEFINITIVAMENTE não são. São pessoas maravilhosas, mas culturalmente bem distintas e é isso que “nos afasta”. Não me sinto muito à vontade quando saímos, pois É diferente. E não falo somente por causa da língua. Não mesmo. A forma de conversar, a forma de expor o que se pensa, os tópicos abordados, as opiniões formadas baseadas em verdades próprias da cultura deles e etc são bem diferentes e isso, querendo ou não, “nos afasta” um pouco ou, dependendo do tema discutido, muito.

Isso, pra exemplificar de uma forma prática, a existência da chamada “barreira cultural”. Uma barreira que separa, mas que também te ensina muito sobre RESPEITO. Você, nessas situações, entende que existem diferenças que esbarram no limite da comunicação e, com isso, você aprende que só tem duas opções frente à esta barreira: respeitar ou se isolar. Eu decidi, depois de sofrer muito com isso, a respeitar e hoje vivo muito melhor comigo e com a cultura local. (((-:

Mas ATENCAO: respeitar não significa VIRAR A CASACA. Isso mesmo! Eu respeito MUITO a cultura alemã, mas só concordo com algumas coisas, por que realmente acredito que são boas, independente se são dessa cultura ou daquela. Mas eu NAO aceito em hipótese nenhuma críticas contra o Brasil (que, aliás, não é um país do 3 mundo e, sim, um país em desenvolvimento) que não sejam fundamentadas e coerentes. Quem me conhece sabe que sou “bocuda” (segundo meu marido é meu jeito “Maysa” de ser) e se eu não concordo eu falo mesmo, doa a quem doer. Pois é, depois que aderi a essa postura “alemã” minha lista de amigos está bem parecida com uma mistura do “Big Brother” com o “Tropa de Elite”, ou seja, cada semana um amigo é eliminado ou pede pra sair. (((-:

Enfim, EU AMO O BRASIL, AMO NOSSA CULTURA E NOSSO POVO, mas eu RESPEITO todas as demais culturas, mesmo que elas não me agradem. (((-:

Isso se chama capacidade de adaptação, baseada em aceitação mútua e respeito recíproco. Para melhor entender, leia a história abaixo:

“Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado.
Ele se vira para o chinês e pergunta: O senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde: Sim, quando o seu vier cheirar as flores.”

Moral da História:
“Respeitar as opções do outro, em qualquer aspecto, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter. As pessoas são diferentes, agem de forma diferente e pensam diferente. Portanto, nunca julgue. Apenas tente compreender.”