Já fazem alguns meses que estou para escrever sobre isso, mas hoje acordei com uma tristezinha chata que virou um rio de lágrimas, ou seja, se transbordou, já passou da hora de dividir o que estou sentindo.
Nessa situacao de estar vivendo fora do nosso país, conhecemos vários perfis de pessoas. Aqui na Alemanha já conheci gente dos mais diversos países, das mais diversas origens, das mais diversas culturas e com as mais diversas histórias de vida. Por sermos estrangeiros dentro da Alemanha, sempre acabamos ficando próximos, pois sentimos que um entende o outro e, logo, sempre discutimos sobre a situacao de estar vivendo numa cultura diferente da nossa.
Tomando como base esse grupo de aprox. 100 pessoas estrangeiras (inclusive brasileiros) que conheci até agora, subdividiria este em algumas categorias: estrangeiros que se sentem melhor aqui do que no país de origem; estrangeiros que nao veem a hora de voltar para seu povo e sua cultura; estrangeiros que nem gostam tanto assim do novo país, mas ainda sim conseguem viver bem; estrangeiros que gostam de qualquer lugar no mundo mais do que o próprio país e que o que mais fazem é criticar o país de origem e exaltar o país onde vivem atualmente; estrangeiros que odeiam “ter” que ficar fora do próprio país e como forma de “desabafo” gastam todos os seus dias xingando a cultura local do país onde está “aprisionado”; estrangeiros que amam o país de origem, mas que procuram aguentar a barra de morar fora por estarem buscando crescimento pessoal, através da oportunidade de terem contato com diversas culturas mundiais; estrangeiros que nao pensam em nada, a nao ser em ter status e ai nao importa onde moram ou de onde venham, o que importa é poder “ter” algo a mais para mostrar como vantagem em relacao ao que outras pessoas tem.
Isso pra tentar mostrar que as pessoas estao aqui por diferentes motivos e muitas querem ir embora também por diferentes motivos. Quem está certo? Quem está errado? NINGUÉM ESTÁ CERTO E NINGUÉM ESTÁ ERRADO. Sao apenas pontos de vista diferentes. Sao apenas histórias de vida diferentes. Sao apenas NECESSIDADES diferentes.
Em qual grupo eu me encontro? Pois é, é por isso que ando refletindo muito, pois fico procurando entender o que tanto me incomoda e que me faz querer voltar para o Brasil. Todo mundo que conheco me pergunta isso, principalmente os alemaes. Essa semana 5 alemaes me perguntaram se eu queria voltar para o Brasil e quando eu respondi que é LÓGICO que sim, eles me perguntaram com surpresa: “Mas POR QUÊ?????”. O que respondi? Ora porque, porque eu AMO meu país, amo as pessoas que lá conheci, amo nossa cultura, amo nossa alegria, nossa garra e, acima de tudo, amo ser brasileira. Tenho orgulho de verdade! Mas eu nao disse o principal motivo: quero voltar porque lá eu sinto que eu “pertenço” e eu, Maira, tenho essa necessidade, a necessidade de pertencer, de sentir que faço parte e que faço diferença. Aqui eu sou e sempre serei estrangeira e hoje acordei cansada de ser estrangeira. De tempos em tempos canso. Depois sigo em frente e tento abstrair pra sobreviver, mas esse sentimento sempre volta.
Quando você acha que acabou, aparece mais alguém te lembrando que você nao é daqui, te perguntando sobre sua cultura, comparando seu país com o dele e vice-versa. No comeco é interessante, mas com o tempo e com as inúmeras vezes que isso acontece, irrita. Eu nao aguento mais explicar sempre todas as mesmas histórias, nao aguento mais ouvir sempre as mesmas perguntas, nao aguento mais ter que lidar sempre com a mesma arrogância européia. Cansa. Cansa saber que nao importa o que você diga ou o que você faca, eles jamais irao te entender, pois eles nao nasceram na mesma cultura que você e vice-versa. Você pode sim e deve simplesmente aceitar que as coisas sao como sao e ponto, pois entender mesmo, só quem ali nasceu ou desde crianca ali viveu. Nao tem outro jeito. Você nao entende, porque você nao pertence. Mas é preciso aprender a aceitar.
Pelo menos é isso que tento todos os dias, tento ouvir o que eles dizem e filtrar. Sim, a gente tem muito que aprender com as outras culturas, mas eles TAMBÉM tem muito o que aprender com a gente, podem ter certeza. E nao importa pra qual país se vá, os problemas sao sempre parecidos. As dificuldades, as tristezas, as alegrias, sao muito, muito parecidas mesmo. Isso porque o problema nao está no que te agrada ou nao na cultura local, mas sim no fato de que você “nao pertence” àquele lugar, àquela cultura. É isso. Simplesmente isso.
Agora, se você mora em outro país e nao sente isso, “go ahead”! Bom pra você, mas nem por isso você é melhor que ninguém. A única diferenca entre você e as pessoas que querem voltar “pra casa” é que vocês tem NECESSIDADES diferentes. Só isso, portanto respeite.
Querer pertencer nao é pecado, é ser humano e é a esse grupo que pertenço: o grupo de estrangeiros que sente a necessidade de pertencer.
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