Como não poderia deixar de ser, eu e o Rô prestigiamos mais essa iniciativa do Círculo Cultural Brasileiro e.V. e, como também não poderia deixar de ser, foi mais um evento daqueles que se faz inesquecível pela forma tão peculiar que foi organizado: com paixao e competência.
Esse foi o primeiro Festival Brasileiro “Filme explica Música” apresentado em Stuttgart e Colônia (Alemanha), organizado pelo clube brasileiro Círculo Cultural Brasileiro e.V.. Um festival onde música e cinema se juntaram, trazendo assim um pouco mais sobre o Brasil para o exterior, trazendo uma das coisas que temos de melhor: a musicalidade brasileira, sua história e suas melodias.
Participei da emocionante abertura. Vocês precisavam ver a brasileiridade da Nancy (coordenadora do projeto) transbordando em palavras, que logo tiveram que vir em português, pois como ela mesma disse, às vezes tanto sentimento só pode ser devidamente expresso na nossa língua materna e eu entendo-a perfeitamente.
Nao tirei muitas fotos, porque nao dava tempo pra pensar nisso. Juro! Eu só queria viver todos os momentos ali de forma extrema e parar pra tirar foto nao era o mais importante, até porque tinha fotógrafo oficial do show pra todo lado e vi vários flashs na nossa direcao, entao é aguardar pra ver o que aparece na mídia. Pra dar uma canja, fiz uns filminhos estilo “Maira”, ou seja, pulando, dancando, rindo e perdendo o foco constantemente. (((-:
Chorei e ri com o filme “Os desafinados”. Assistir à um filme brasileiro, em português, com um público por vezes gargalhando juntos, me trouxe por alguns momentos o sentimento de realmente estar no Brasil. Chorei ouvindo as músicas, principalmente “Carinhoso”. Tá, também chorei à toa vendo aqueles amigos falando a mesma língua, buscando seus sonhos juntos, dividindo dificuldades juntos, fazendo uma história juntos e lembrei de todos os “meus” que seguem agora em outros caminhos, assim como eu. Voltei ao tempo e chorei de saudades. Mas também ri horrores com várias passagens absurdamente brasileiras no filme, piadas que sao difíceis de explicar pra qualquer gringo. Quer um exemplo? Em uma das passagens do filme, o grupo de músicos que sao protagonistas no filme vao para Nova York buscando a fama. Chegando lá um deles (Rodrigo Santoro) conhece uma brasileira que mora lá (Cláudia Abreu) e descola a oportunidade de hospedar o grupo todo no apê dela. Ela tem uma vizinha francesa que fica caidinha por um dos integrantes do grupo (Jairzinho – quem nao ficaria? rs). Um dia essa francesa leva uma torta ou sei lá o que de presente para todos no apê e comeca a falar em francês com os meninos que nao entendem bulhufas, mas como todo bom brasileiro, sempre dao um jeito de se comunicar. Chegando ela diz “Savá?” (Como vai?) e eles todos empolgados com a simpatia da moca, respondem rachando o bico “Ah Saravá”. Nisso a platéia brasileira no cinema se mata de rir (só vendo pra rir também) e eu cai na minha sutil gargalhada (imagina!). Eis que uma alema sentada ao meu lado me cutuca e me pergunta em alemao: “Was bedeutet Saravá?” (O que significa Saravá?). Putz, eu ainda rindo, disse francamente: “Entschuldigung aber leider gibt es wahrscheinlich keine Übersetzung auf Deutsch” (Desculpe, mas infelizmente provavelmente nao existe nenhuma traducao pra isso em alemao). Tá, eu podia ter tentado explicar em que contexto engracado usamos essa expressao, sua origem e blablabla, mas fala sério, eu ia precisar de uns 10 minutos pra isso, ou seja, perder 10 minutos daquele filme de jeito nenhum! Enfim, um filme ÓTIMO, muito bem estruturado, divertido, às vezes dramático, rico musicalmente e, principalmente, um filme que realmente representa o Brasil no que diz respeito à Bossa Nova e vontade de vencer e de viver.
No mesmo dia, mais tarde foi a vez de sermos presenteados com a presenca de Naná Vasconcelos, o melhor percussionista do mundo. Será possível descrevê-lo e descrever seu trabalho em palavras? Duvido. Nao é humano. É angelical. É transcendental. Eu praticamente entrei em transe com aqueles sons que ele tira de qualquer coisa, inclusive de um simples pinico. E a simpatia, meu Deus! Ele é daqueles artistas que são o que são em qquer lugar e não se deixa intimidar por estar aqui ou lá. Ele transformou o palco em um terreiro, depois em uma selva e muitas vezes em um picadeiro com seu humor delicioso, que nos obriga a participar. Trouxe o público para todos esses cenários, ou seja, dividiu seu palco humildemente com cada um dos que estavam presentes. Foi MÁGICO! Sem palavras.
Outro filme que assistimos foi “O milagre de Sta Luzia”. No filme nosso mestre do Forró, Dominguinhos, percorre o Brasil de norte à sul usando a história da sanfona no contexto Brasil para contar também sobre a sua trajetória, semelhante à trajetória de muitos nordestinos desse nosso gigante país. É um filme que nos faz rir muito, mas que também nos faz chorar (tá, tô de TPM e isso pode ter interferido…rs) e refletir sobre quem sao esses nordestinos no contexto Brasil. Eu, como paulistana, posso dizer que o filme toca lá dentro, assim como a sanfona de Dominguinhos e de todos artistas da sanfona que nos sao apresentados no decorrer do filme. Sao histórias de luta, de coragem, de falta de oportunidade, de esperanca, de fé. O filme mostra também como somos diversos, passando pelo nordeste, pelo centro-oeste, pelo sudeste e pelo sul. É riquissímo! E, vale a pena salientar, que o retrato mostrado de SP nao é muito agradável de se ver para quem é de lá, mas é preciso entender que ali o que se quis mostrar é para onde vao geralmente os nordestinos que lá chegam sem nada e se ninguém e, quem ver, verá que nada ali foi inventado. É triste, mas é real. Mas, sem dúvida, o sentimento que fica depois do filme nao é a tristeza, afinal estamos falando de nordestino, estamos falando de música, estamos falando de Brasil, ou seja, a única coisa que fica só pode ser alegria e saudade.
Quinta foi a vez de nos deliciar (ui!) com o show de ninguém mais, ninguém menos do que Jair Oliveira (nosso conhecido e querido Jairzinho). Foi interessante perceber que poucos brasileiros por aqui conheciam os trabalhos dele depois que deixou de ser o “Jairzinho”. O trabalho dele é simplesmente super-fantástico (juro que nao era pra ser um trocadilho besta…rs)! AMO! A voz, os arranjos musicais, as letras das músicas, a simpatia, a humildade, o sorriso (ahhh o sorriso..jesus!), a energia positiva que ele emana, a alegria, a calma, a brasileiridade do Jair Oliveira ou Jairzinho, ou seja lá que nome artístico ele assuma, é simplesmente mágica e inesquecível. O público pegou fogo, a mulherada ficou indócil, os estrangeiros com certeza se encantaram e eu nao vejo a hora de ir no próximo show dele aqui ou em qualquer lugar. E a hora que ele nos presenteou tocando “Superfantástico” estilo MPB! A galera foi à loucura! Nao, eu jamais poderia imaginar viver aquele sentimento de novo, enquanto ele cantava tenho certeza que passou um filme na cabeca dos véinhos por ali. Na minha passou um seriado inteiro! (((-:
Sexta chegou o último dia do festival 2009 e, com ele, chegou também a hora de botar pra quebrar literalmente. Dancamos sem (quase) parar com Max de Castro e Wilson Simoninha (filhos do grande Simonal). Foi difícil deixá-los ir embora, principalmente depois que chamaram o Jair Oliveira pra subir no palco. Ai é que ninguém queria mais ir embora mesmo! Foi mais um show digno de Brasil, mostrando nossa riqueza e toda nossa ginga, “of course”. (((-:
Fim só do primeiro Festival de Cinema Brasil e o comeco de uma nova e rica imagem brasileira no exterior. Pois, que a música brasileira é uma (ou a mais) rica e diversificada do mundo, todos já ouviram falar, mas ter a chance de ver isso é beeem diferente. Mas as músicas nao foram somente ouvidas, suas raízes foram expostas através dos filmes mostrados paralelamente. Impossível esquecer tal festival. Impossível nao sonhar com o próximo. Impossível nao continuar sorrindo todos os dias após cada show e cada filme.
Todos os dias que estive presente foram MARAVILHOSOS e só ouvi coisas maravilhosas sobre os dias que nao pude estar lá (sou apaixonada pelo Brasil e fa do Círculo Cultural Brasileiro e.V. aqui em Stuttgart, mas ainda sou estudante, poxa! rs).
Ontem foi o fechamento, um fechamento que na verdade nao tem nada a ver com o nome, pois pra mim ali ficou uma porta escancarada, cheia de sonhos e oportunidades para esse festival que nasce agora.
Parabéns Círculo e obrigada por trazerem um pouquinho de Brasil pra todos nós e pra todos àqueles que queriam saber o que é que o Brasil tem “de-mais”.
Links relacionados (conforme for aparecendo alguma coisa na mídia, vou colocando os links aqui):
http://www.film-erzaehlt-musik.de/
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