SENTIMENTOS – Saudades do português

Agora sao 14:15 horas da tarde aqui na Alemanha e eu deveria ainda estar na Uni, mas, adivinhem, nao estou. Fui, aguentei a aula de Direito até onde pude e, após passar do meu limite, decidi vir embora sem peso na consciência, mas com uma dor intensa no coracao.

Por quê? Porque todos os dias tento suportar o fato de nao entender 100% do que é dito nas aulas do meu MBA. Sim, até agora consegui passar em todas matérias e isso, se depender da minha forca de vontade nata, nao vai mudar. Mas tem dias (como hoje) que eu lembro que sou humana e nao a mulher maravilha. Chega um momento após 5 horas ouvindo algo que você simplesmente nao compreende, que você simplesmente desiste. Sao horas sentada ali com cara de quem tá com diarréia; vendo todo mundo rir de algo que você nao faz a menor idéia do que é; vendo todo mundo procurando alguma informacao no material didático e que você também nao faz a menor idéia o que é que eles tanto procuram; vendo que no trabalho em grupo sua colega do lado simplesmente vira às costas para você (detalhe, você está no grupo dela), pois sabe que você precisa de no mínimo mais 15 minutos pra conseguir entender as palavras mais básicas pra ela, ou seja, com certeza você nao vai saber a resposta que o grupo precisa dar; sao horas onde você se pergunta a cada minuto: “O que é que eu ainda estou fazendo sentada aqui?”. Pois bem, hoje depois de 5 horas vivendo isso pela enésima vez, decidi espontaneamente levantar e ir embora. Segunda-feira vou passar pela mesma coisa, mas pelo menos vou ter 3 dias pra traduzir todas palavras que preciso traduzir para, pelo menos, entender porque estarei sentada lá de novo.

E quando esse sentimento fica como hoje à flor da pele (sim, porque existir ele existe todos os dias desde que comecei esse MBA), sinto falta dela: da língua portuguesa. Sinto falta de ouvir, de ler e de escrever em português mais intensamente. Sinto falta da musicalidade. Sinto falta de me expressar na minha língua materna. Sinto falta de ler e só ter que entender o conteúdo, nao os significados. Sinto falta até mesmo das minhas aulas de português com a Profa. Nancy e depois com a Profa. Marleide. Ai que saudades! Meu Deus que saudades de ser compreendida e compreender tudo todos os dias! (pelo menos no que diz respeito à língua…rs)

Sendo assim, como nao podia deixar de ser, decidi saber o que dizem os poetas sobre nossa língua portuguesa. Acreditem, quando li a análise do poema abaixo “Língua Portuguesa” de Olavo Bilac, chorei e, dá um desconto, ainda estou chorando (se tivesse lido só o poema, sem a análise, teria chorado por nao entender nem mesmo português…rs). Mas me pergunto: “Será que se eu nao estivesse vivendo esse “conflito” linguístico, eu choraria lendo um poema que fala sobre a língua portuguesa?”. Acho que nao. Por isso, mais uma vez, agradeco à Deus por me por em mais uma situacao transformadora e enriquecedora, mesmo que extremamente difícil e desgastante. Viver é ajustar nossas lentes constantemente, buscando sempre novos pontos de vista.

Nossa língua portuguesa é MARAVILHOSA. Acreditem! E nao é só porque eu sou brasileira nao, muitas pessoas de outras nacionalidades que me ouviram falando português, disseram que é delicioso ouvir a gente falando português. Ou seja, falem bem ou mal dos “invasores” portugueses, mas ninguém pode negar que esse legado foi um presente. Um presente que nós, brasileiros, otimizamos e embelezamos. (((-:

Saudades de você minha querida e insubstituível “Língua Portuguesa”!!!! )))-:

“LÍNGUA PORTUGUESA” Olavo Bilac (1865 – 1918)

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Análise do poema por Paula Perin dos Santos:

“No poema Língua Portuguesa, o autor parnasiano Olavo Bilac faz uma abordagem sobre o histórico da língua portuguesa, tema já tratado por Camões. Este poema inspirou outras abordagens, como o poema “Língua”, de Gilberto Mendonça e “Língua Portuguesa”, de Caetano Veloso.

Esta história é contada em catorze versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos – um soneto – seguindo as normas clássicas da pontuação e da rima.

Partindo para uma análise semântica do texto literário, observa-se que o poeta, com a metáfora “Última flor do Lácio, inculta e bela”, refere-se ao fato de que a língua portuguesa ter sido a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar – falado pelos soldados da região italiana do Lácio.

No segundo verso, há um paradoxo: “És a um tempo, esplendor e sepultura”. “Esplendor”, porque uma nova língua estava ascendendo, dando continuidade ao latim. “Sepultura” porque, a partir do momento em que a língua portuguesa vai sendo usada e se expandindo, o latim vai caindo em desuso, “morrendo”.

No terceiro e quarto verso, “Ouro nativo, que na ganga impura / A bruta mina entre os cascalhos vela”, o poeta exalta a língua que ainda não foi lapidada pela fala, em comparação às outras também formadas a partir do latim.

O poeta enfatiza a beleza da língua em suas diversas expressões: oratórias, canções de ninar, emoções, orações e louvores: “Amo-te assim, desconhecida e obscura,/ Tuba de alto clangor, lira singela”. Ao fazer uso da expressão “O teu aroma/ de virgens cegas e oceano largo”, o autor aponta a relação subjetiva entre o idioma novo, recém-criado, e o “cheiro agradável das virgens selvas”, caracterizando as florestas brasileiras ainda não exploradas pelo homem branco. Ele manifesta a maneira pela qual a língua foi trazida ao Brasil – através do oceano, numa longa viagem de caravela – quando encerra o segundo verso do terceto.

Ainda expressando o seu amor pelo idioma, agora através de um vocativo, “Amo-te, ó rude e doloroso idioma”, Olavo Bilac alude ao fato de que o idioma ainda precisava ser moldado e, impor essa língua a outros povos não era um tarefa fácil, pois implicou em destruir a cultura de outros povos.

No último terceto, para finalizar, quando o autor diz: “Em que da voz materna ouvi: “meu filho!/ E em que Camões chorou, no exílio amargo/ O gênio sem ventura e o amor sem brilho”, ele utiliza uma expressão fora da norma (“meu filho”) e refere-se a Camões, quem consolidou a língua portuguesa no seu célebre livro “Os Lusíadas”, uma epopéia que conta os feitos grandiosos dos portugueses durante as “grandes navegações”, produzida quando esteve exilado, aos 17 anos, nas colônias portuguesas da África e da Ásia. Desce exílio, nasceu “Os Lusíadas”, uma das oitavas epopéias do mundo.

Fonte: http://www.infoescola.com/literatura/analise-do-poema-lingua-portuguesa/

LÍNGUA PORTUGUESA – Reforma ou deforma?

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Já estou há algum tempo pensando em escrever algo sobre essa “reforma” ortográfica da língua portuguesa. Não porque é pop, mas porque é um porre. Tanto que ao final desse post, apresento algumas piadas sobre o assunto, pra torná-lo, no mínimo, engraçado. Pois é, rir para não chorar. (((-:

Sério! Eu AINDA não aderi e nem estou muito preocupada, pois não estou AINDA preparada psicologicamente e também não estou convencida de que essa mudança é pra valer. Brasil… sabe como é… ainda tenho até 31/12/2012 pra “des-aprender”, ou seja, pra que a pressa…(((-:

Em vigor desde o dia 1° de janeiro desse ano, a reforma na escrita da língua portuguesa, determinada pelo Acordo Ortográfico aprovado em 1990, e assinado em setembro do ano passado pelo presidente Lula, gerou e está gerando muita discórdia e descontentamento. Muitas pessoas consideram as mudanças desnecessárias, outras julgam insuficientes e incoerentes (como eu) e ainda existem aquelas preocupadas com crianças em fase de alfabetização.

Algumas das mudanças já vieram tarde, pois eu mesma raramente usava trema. Mas outras mudanças vieram só mesmo para bagunçar o coreto. Por exemplo, o “pára” (verbo) que agora virou “para” igualzinho a preposição. Sinto muito, mas parei. Não dá. Não adianta brasileiros e portugueses dizerem que quando lê na língua do outro não dá pra entender por causa dos acentos, dos hífens ou dos tremas. PELOAMORDEDEUS!!!! Balela. O mais difícil, sem dúvida, é entender quando falamos e isso, com esses acordos ortográficos, não muda absolutamente NADA, pois a diferença está no vocabulário e não na ortografia. E nosso vocabulário não pode ser mudado, baseado no vocabulário dos portugueses. Assim espero. (((-:

A situação na real é a seguinte, os países de língua “lusitana” (que alguns chamam – e me irritam com isso – de países lusófonos) buscam essa homogeneidade na ORTOGRAFIA (a pronúncia não muda, ok!?) da “nossa” língua por motivos aparentemente políticos/econômicos e não (como defendem) de comunicação. Isso mesmo. A língua portuguesa é falada por mais de 220 milhões de pessoas em todo o mundo. São 190,3 milhões no Brasil, 10,5 milhões em Portugal e 20 milhões em países africanos e comunidades da Ásia. Considerando que esse movimento vai mexer muito mais na ortografia do português de Portugal, quem é que vai ganhar algo com isso? O Brasil. Lógico!

E é isso que defendem alguns portugueses, entre eles o deputado do Parlamento europeu Vasco Graça Moura que declarou o seguinte: “Evidentemente, é uma capitulação aos interesses brasileiros. No dia em que a grafia brasileira puder ser utilizada em todos os espaços em que se fala a língua portuguesa, é evidente que os interesses econômicos brasileiros, muito em especial os ligados às edições escolares, estarão altamente beneficiados. Sou um admirador da cultura brasileira, não há nada de anti-brasileirismo nesta opinião. O que há é a constatação de que com a adoção do acordo ortográfico – se é que ele chegará a entrar em vigor – é evidente que as entidades produtoras de material impresso sediadas no Brasil tirarão daí grandes vantagens.”

Além de afirmativas como esta acima, uma petição com milhares de assinaturas pedindo a suspensão da implementação do acordo está sendo avaliada pela Assembléia da República em Portugal. Enfim, acho que aquelas piadinhas preconceituosas no Brasil contra portugueses, considerando essa situação, vão ter que sofrer uma pequena inversão, não acham? (((-:

Bom, se é o Brasil que pode levar vantagem eu deveria, como brasileira, ficar feliz, certo? Não! Errado. Vai entrar dinheiro no caixa do governo, mas vai sair dinheiro do bolso de cada um de nós (inclusive daqueles que não tem) e, além disso, teremos que nos adaptar à uma mudança precipitada e talvez inútil, pois Portugal pode sim voltar atrás.

Acho que mais importante do que gastar uma fortuna como consequência desse “mimo”, todos os países envolvidos deveriam se preocupar mais em ensinar sua língua, o mínimo que seja, para o maior número de cidadãos possível e, de preferência, ensinar o uso correto. Um povo analfabeto continuará assim, com ou sem reformas gramaticais, até que haja reforma na educação. É preciso preocupar-se com a base, pessoas bem preparadas intelectualmente aprenderão seja lá qual for a regra.

Mudar sim, mas pra melhor. Sempre! Ou seja, mudanças são ótimas e necessárias, mas precisam ser coerentes e mais profundas. Mudaram, mudaram mal e mudaram MUITO pouco.

Já no início do século passado, o historiador João Ribeiro escrevia estas palavras atualíssimas: “A nossa gramática não pode ser inteiramente a mesma dos portugueses. As diferenciações regionais reclamam estilo e método diversos. A verdade é que, corrigindo-nos, estamos de fato a mutilar idéias e sentimentos que nos são pessoais. Já não é a língua que apuramos, é o nosso espírito que sujeitamos a servilismo inexplicável. Falar diferentemente não é falar errado. A fisionomia dos filhos não é a aberração teratológica da fisionomia paterna. Na linguagem, como na natureza, não há igualdades absolutas; não há, pois, expressões diferentes que não correspondam também a idéias ou a sentimentos diferentes. Trocar um vocábulo, uma inflexão nossa, por outra de Coimbra, é alterar o valor de ambos a preço de uniformidades artificiosas e enganadoras.”

* Agora umas piadas sobre essas mudanças pra relaxar e parar tudo:

Hiperácido tem acento ora pois pois. Cá-sevê uma proparoxítona.”

“Ouvi dizer que o cágado vai virar cagado.”

“Com novas regras ortográficas, pelo que entendi vendo a TV, o Prof. Pasquale deixou milhares de espectadores aliviados: aparentemente, “” não perderá acento.”

“Minha mãe, que está passando pela sua terceira reforma ortográfica, está mandando você ficar tranquilo, pois já-já você se acostuma.”

“O que realmente me impressiona mesmo é que eles ainda tem a audácia de dizer que apenas 0,5% das palavras que vão mudar. Caramba! Esse 0,5% é todo o meu vocabulário poxa!”

“Eu acho que essa reforma é de esquerdista, digo progressista. Ninguém mais errará o trema. Socializou o erro do trema.”

“Eu não gostei que tiraram o trema do Pinguim! Descaracterizou o bichinho! é como se tivessem tirado a gravata dele!”

“Coitado do Lula. Logo agora que ele estava aprendendo a escrever, mudaram tudo.”

* Veja aqui algumas fontes de onde tirei informações para esse texto:

http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2009/01/485256-novo+acordo+ortografico+ainda+divide+opinioes.html

 

http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL940591-5604,00.html 

 

* Veja aqui um vídeo super esclarecedor e interessante com o Prof. Pasquale:

http://www.putsgrilo.com/dicas/nova-gramatica-a-reforma-ortografica-por-professor-pasquale/